CRÓNICA de: António Nametil Mogovolas de Muatua
Em cada dia quatro de Outubro, desde 1992, festejamos o advento da Paz em Moçambique, após termos resistido durante 16 anos aos sofrimentos que só uma guerra como aquela poderia ter produzido nas nossas carnes e espíritos.
O longo processo da independência de Moçambique conheceu diversas vicissitudes. As dificuldades, umas após outras, foram sendo sucessivamente ultrapassadas graças à luta do povo moçambicano. Não tenho a pretensão de fazer o papel de arauto da FRELIMO, organização de muitas glórias, mas que, hoje, parece estar a experimentar a salutar crise de desenvolvimento, própria de todos os corpos vivos quando atingem a terceira idade. Mas falarei deste partido político porque o tema da minha reflexão desta semana ficaria qualitativamente sacrificado se o não enquadrasse no contexto do meu texto.
Como se poderá ver, também não faço nenhuma apologia ao colonialismo português, mas não consigo discorrer o meu argumento sem falar dele.
Em cada dia quatro de Outubro, desde 1992, festejamos o advento da Paz em Moçambique, após termos resistido durante 16 anos aos sofrimentos que só uma guerra como aquela poderia ter produzido nas nossas carnes e espíritos.
O longo processo da independência de Moçambique conheceu diversas vicissitudes. As dificuldades, umas após outras, foram sendo sucessivamente ultrapassadas graças à luta do povo moçambicano. Não tenho a pretensão de fazer o papel de arauto da FRELIMO, organização de muitas glórias, mas que, hoje, parece estar a experimentar a salutar crise de desenvolvimento, própria de todos os corpos vivos quando atingem a terceira idade. Mas falarei deste partido político porque o tema da minha reflexão desta semana ficaria qualitativamente sacrificado se o não enquadrasse no contexto do meu texto.
Como se poderá ver, também não faço nenhuma apologia ao colonialismo português, mas não consigo discorrer o meu argumento sem falar dele.
Primeiro foram os colonialistas, que jamais nos queriam deixar ser
independentes. De parceiros comerciais esporádicos e bem vindos,
transformaram-se em nossos colonizadores, opressores e serviram-se das
nossas riquezas e até de pessoas que vendiam como escravas para as
Américas e Europa.
Com a religião oficial da coroa portuguesa, adoçaram-nos os espíritos e depois, com espadas e lanças, mataram-nos quando tentávamos impedir que se estabelecessem em nossas terras e pilhassem os nossos homens para vendê-los como escravos e os nossos bens como mercadorias de alto valor comercial além fronteiras e nas Índias, como genericamente a Ásia era chamada naqueles tempos em que o valente Rei Ngungunhana Nkhumayio e outros nacionalistas indígenas resistiam à colonização efectiva do nosso País depois do Tratado de Berlim, o tal que obrigava os países detentores de possessões coloniais em África a ocupá-los de facto, sob pena de as perderem caso isso não fosse concretizado.
Esta ocupação efectiva do território nacional por Portugal, que tinha limitações em termos de quadros e meios financeiros para explorar efectivamente a colónia de Moçambique, contou com a cooperação de empresas internacionais com poderes majestáticos que beneficiaram da prerrogativa de terem possessões territoriais que as administravam e que ficaram conhecidas com o nome de Prazos.
Os prazistas, por mandado recebido de Portugal, tinham poderes políticos, administrativos, financeiros e até de cunhagem de moeda sobre as suas possessões.
Com o advento das independências africanas, Portugal recusou-se a agir segundo o mesmo diapasão das outras potências colonizadoras. Aumentou a repressão contra os nacionalistas moçambicanos e os portugueses que ousassem defender a causa da nossa independência.
A PIDE – Polícia Internacional da Defesa do Estado - foi criada e dotada de meios para prevenir e reprimir toda a acção que pudesse ser confundida com atitudes pró-independentistas. Mais tarde, a DGS – Direcção Geral de Segurança - aparentemente mais branda, sofisticou os métodos de actuação herdados da PIDE, mas a brutalidade contra os que se atreviam a lutar contra o regime colonial e fascista, este último instituído, desde 1926, em Portugal e respectivas colónias, conheceu um recrudescimento qualitativo.
Porque – como dizia a Frente de Libertação de Moçambique – “entra bala aonde não entra política”, o Povo Moçambicano foi obrigado a pegar em armas e lutar pela sua independência que lhe era negada por meios pacíficos e alcançou-a em 1975.
Os colonialistas nunca satisfeitos com o desenrolar da inevitabilidade dialéctica da roda da História, usaram aquilo que melhor sabiam esgrimir, a violência, para impedir que a nossa independência se consolidasse. Juntaram-se (militar, logística e financeiramente) aos regimes ilegais e reaccionários mais odiados no mundo de então: o de Ian Smith, na ex-Rodésia do Sul e o tristemente famoso apartheid que vigorou na Àfrica do Sul até 1990.
Ajudados pelo povo moçambicano, os zimbabweanos venceram o Ian Smith e, em 1980, nasceu a República do Zimbabwé.
Mas como os despolitizados colonialistas não se queriam convencer que a guerra para a recuperação dos seus imerecidos privilégios em Moçambique estava irreversivelmente perdida, eis que, de novo, se lançaram numa nova aventura de darem apoio ao regime do apartheid que se convencera que, facilmente, derrubaria o regime de Maputo.
A RNM – Resistência Nacional de Moçambique - inspiração africana dos Khmers Vermelhos do Cambodja, foi criado e à mistura com ataques directos feitos pelo exército sul-africano, Moçambique foi agredido de forma selvática. A título de exemplo, recordo que o actual Presidente da República da África do Sul, na altura refugiado em Moçambique, sobreviveu ao ataque da aviação sul-africana a uma fábrica na Matola.
O povo moçambicano, sempre amante da Paz, ensaiou, honestamente, a estratégia que culminou na assinatura do Acordo de Nkomati, aos 16 de Março de
1984, entre Moçambique e a RSA. Com este acordo o governo sul-africano passou a não aparecer publicamente, tendo-se feito substituir pela RNM, cujas acções conheceram uma intensificação em termos de aumento da qualidade e da quantidade da sua destruição e assassinatos terroristas hediondos, como no que respeita à sua expansão geográfica pelo País.
Com efeito, foi depois da assinatura do acima mencionado acordo que as acções criminosas da RNM, patrocinadas pelo Governos sul-africano e pelos saudosistas e descontentes colonialistas, conheceram alargamento por grandes áreas do território nacional. Tentaram usar a tribo para dividir a Nação!
O grande mérito da FRELIMO e do seu Governo – mas que, para surpresa minha, ninguém enfatiza este facto – foi o de impedir que a guerra da RNM fosse transformada, por este movimento, em guerra tribal como essa que, infelizmente, grassa por alguns países africanos. O segundo grande mérito foi o de circunscrever aquela guerra em ideológica, com fortes laivos de um confronto militar imposto de fora aos moçambicanos e nunca tribal como a RNM e os seus patronos e mentores ideológicos pretendiam transformá-la.
De facto, os moçambicanos que foram obrigados a matar os seus irmãos como agentes executantes dos desígnios da RNM fizeram-no sem olharem para a tribo a que pertenciam, assim como os que estavam no exército governamental combatiam seus irmãos que divergiam ideologicamente do Governo oficial e formal de Moçambique.
Portanto, os colonialistas e seus aliados internacionais, perderam, mais uma vez, esta parada da sua longa luta para não deixarem Moçambique seguir o seu caminho e os moçambicanos ganharam porque a FRELIMO nunca deixou que o dito conflito armado dos 16 anos se transformasse em guerra tribal, mas sim em confronto militar entre irmãos com única e forte motivação ideológica.
Se aquela guerra tivesse sido transformada em tribal e não ideológica como o foi, de facto, até hoje, após a assinatura do Acordo Geral da Paz, em 04/10/1992, os moçambicanos estariam com ressentimentos tribais de uns contra os outros.
É que, desde os primórdios da luta armada de libertação nacional, a FRELIMO sempre desencorajou o culto do tribalismo e do racismo no seu seio e no País e todas as clivagens que foram sendo ultrapassadas – algumas, infelizmente, com a eliminação física de pessoas – nunca tiveram roupagens tribais.
E sem tribo nem raça, nem religião, nem outro tipo de discriminação vamos – todos moçambicanos – combater a corrupção, a preguiça e todos os restantes males que coexistem com este sub-desenvolvimento que ainda nos agride.
WAMPHULA FAX – 22.02.2012
Com a religião oficial da coroa portuguesa, adoçaram-nos os espíritos e depois, com espadas e lanças, mataram-nos quando tentávamos impedir que se estabelecessem em nossas terras e pilhassem os nossos homens para vendê-los como escravos e os nossos bens como mercadorias de alto valor comercial além fronteiras e nas Índias, como genericamente a Ásia era chamada naqueles tempos em que o valente Rei Ngungunhana Nkhumayio e outros nacionalistas indígenas resistiam à colonização efectiva do nosso País depois do Tratado de Berlim, o tal que obrigava os países detentores de possessões coloniais em África a ocupá-los de facto, sob pena de as perderem caso isso não fosse concretizado.
Esta ocupação efectiva do território nacional por Portugal, que tinha limitações em termos de quadros e meios financeiros para explorar efectivamente a colónia de Moçambique, contou com a cooperação de empresas internacionais com poderes majestáticos que beneficiaram da prerrogativa de terem possessões territoriais que as administravam e que ficaram conhecidas com o nome de Prazos.
Os prazistas, por mandado recebido de Portugal, tinham poderes políticos, administrativos, financeiros e até de cunhagem de moeda sobre as suas possessões.
Com o advento das independências africanas, Portugal recusou-se a agir segundo o mesmo diapasão das outras potências colonizadoras. Aumentou a repressão contra os nacionalistas moçambicanos e os portugueses que ousassem defender a causa da nossa independência.
A PIDE – Polícia Internacional da Defesa do Estado - foi criada e dotada de meios para prevenir e reprimir toda a acção que pudesse ser confundida com atitudes pró-independentistas. Mais tarde, a DGS – Direcção Geral de Segurança - aparentemente mais branda, sofisticou os métodos de actuação herdados da PIDE, mas a brutalidade contra os que se atreviam a lutar contra o regime colonial e fascista, este último instituído, desde 1926, em Portugal e respectivas colónias, conheceu um recrudescimento qualitativo.
Porque – como dizia a Frente de Libertação de Moçambique – “entra bala aonde não entra política”, o Povo Moçambicano foi obrigado a pegar em armas e lutar pela sua independência que lhe era negada por meios pacíficos e alcançou-a em 1975.
Os colonialistas nunca satisfeitos com o desenrolar da inevitabilidade dialéctica da roda da História, usaram aquilo que melhor sabiam esgrimir, a violência, para impedir que a nossa independência se consolidasse. Juntaram-se (militar, logística e financeiramente) aos regimes ilegais e reaccionários mais odiados no mundo de então: o de Ian Smith, na ex-Rodésia do Sul e o tristemente famoso apartheid que vigorou na Àfrica do Sul até 1990.
Ajudados pelo povo moçambicano, os zimbabweanos venceram o Ian Smith e, em 1980, nasceu a República do Zimbabwé.
Mas como os despolitizados colonialistas não se queriam convencer que a guerra para a recuperação dos seus imerecidos privilégios em Moçambique estava irreversivelmente perdida, eis que, de novo, se lançaram numa nova aventura de darem apoio ao regime do apartheid que se convencera que, facilmente, derrubaria o regime de Maputo.
A RNM – Resistência Nacional de Moçambique - inspiração africana dos Khmers Vermelhos do Cambodja, foi criado e à mistura com ataques directos feitos pelo exército sul-africano, Moçambique foi agredido de forma selvática. A título de exemplo, recordo que o actual Presidente da República da África do Sul, na altura refugiado em Moçambique, sobreviveu ao ataque da aviação sul-africana a uma fábrica na Matola.
O povo moçambicano, sempre amante da Paz, ensaiou, honestamente, a estratégia que culminou na assinatura do Acordo de Nkomati, aos 16 de Março de
1984, entre Moçambique e a RSA. Com este acordo o governo sul-africano passou a não aparecer publicamente, tendo-se feito substituir pela RNM, cujas acções conheceram uma intensificação em termos de aumento da qualidade e da quantidade da sua destruição e assassinatos terroristas hediondos, como no que respeita à sua expansão geográfica pelo País.
Com efeito, foi depois da assinatura do acima mencionado acordo que as acções criminosas da RNM, patrocinadas pelo Governos sul-africano e pelos saudosistas e descontentes colonialistas, conheceram alargamento por grandes áreas do território nacional. Tentaram usar a tribo para dividir a Nação!
O grande mérito da FRELIMO e do seu Governo – mas que, para surpresa minha, ninguém enfatiza este facto – foi o de impedir que a guerra da RNM fosse transformada, por este movimento, em guerra tribal como essa que, infelizmente, grassa por alguns países africanos. O segundo grande mérito foi o de circunscrever aquela guerra em ideológica, com fortes laivos de um confronto militar imposto de fora aos moçambicanos e nunca tribal como a RNM e os seus patronos e mentores ideológicos pretendiam transformá-la.
De facto, os moçambicanos que foram obrigados a matar os seus irmãos como agentes executantes dos desígnios da RNM fizeram-no sem olharem para a tribo a que pertenciam, assim como os que estavam no exército governamental combatiam seus irmãos que divergiam ideologicamente do Governo oficial e formal de Moçambique.
Portanto, os colonialistas e seus aliados internacionais, perderam, mais uma vez, esta parada da sua longa luta para não deixarem Moçambique seguir o seu caminho e os moçambicanos ganharam porque a FRELIMO nunca deixou que o dito conflito armado dos 16 anos se transformasse em guerra tribal, mas sim em confronto militar entre irmãos com única e forte motivação ideológica.
Se aquela guerra tivesse sido transformada em tribal e não ideológica como o foi, de facto, até hoje, após a assinatura do Acordo Geral da Paz, em 04/10/1992, os moçambicanos estariam com ressentimentos tribais de uns contra os outros.
É que, desde os primórdios da luta armada de libertação nacional, a FRELIMO sempre desencorajou o culto do tribalismo e do racismo no seu seio e no País e todas as clivagens que foram sendo ultrapassadas – algumas, infelizmente, com a eliminação física de pessoas – nunca tiveram roupagens tribais.
E sem tribo nem raça, nem religião, nem outro tipo de discriminação vamos – todos moçambicanos – combater a corrupção, a preguiça e todos os restantes males que coexistem com este sub-desenvolvimento que ainda nos agride.
WAMPHULA FAX – 22.02.2012
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