DIZER POR DIZER - Escola secundária sem director!
ACONTECE, aquilo que era impensável, mesmo no auge do nosso sofrimento como povo e país, no zénite da carestia e carência em recursos humanos, quando todos os cantos pareciam não terem quadros, pois a própria história fazia os seus. Ainda que fossemos muitos zarolhos, sempre havia alguém com pelo menos um olho. Nunca não houve director!
Maputo, Sábado, 4 de Fevereiro de 2012
NotíciasO que sabíamos e ainda não foi rectificado é que a Escola Secundária de Pemba há mais de um ano que saiu de uma profunda reabilitação, considerada de raiz, que já empresta ao exterior uma beleza inquestionável, que contrasta, todavia, com o seu interior, onde a maioria dos alunos senta no chão, para aprender como encarar o futuro.
Sabíamos que no ano passado, de um total de 2.100 carteiras individuais necessárias, existiam apenas 729 duplas, do período antes das melhorias que beneficiou, distribuídas um pouco por todas as turmas e os alunos sentavam-se entre três a quatro, em cada carteira.
Mas também acabamos sabendo que o seu director, Samuel Buanar, ainda no ano passado, foi promovido a director provincial dos Transportes e Comunicações, algo normal, entre os funcionários do Estado.
Mas o que não sabíamos era que ele ainda continuava director da escola secundária. Aliás, nunca coube na cabeça de quem quer que fosse, que um director provincial, de seja o que seja, acumulasse as suas funções com a de director duma escola, neste caso secundária. Não sabíamos, portanto, que houvesse directores-turbo!
Justifica-se, então, que os finalistas da escola secundária, tenham tido grandes dificuldades neste inicio de ano, principalmente nesta semana, em obter os seus certificados, porque obrigatoriamente devem ser assinados pelo director provincial dos Transportes e Comunicações, aliás, director da escola que trabalha naquela direcção provincial.
A distância entre a escola secundária e a Direcção Provincial dos Transportes e Comunicações é de cima para baixo, quer dizer, aquela localiza-se na cidade alta e esta na baixa da cidade de Pemba, aonde devem ser levados os documentos, à procura da disponibilidade do senhor director provincial.
Como humano e em função das suas novas atribuições, de facto não estará assim tão disponível, com o receio de dar razão ao adágio popular português, segundo o qual, quem quer tudo, tudo perde, mas que na minha língua ainda é suave “nan’vara nila-nila, omoha yan’vuluwa”( quem quer os dois lados, um deles perde).
Havia-nos ficado aberrante quando soubemos dos meninos cujos certificados não saíam e se demoravam matricular nas escolas e níveis imediatos, pois não sabíamos que mesmo do ponto de vista administrativo as coisas também eram assim. Que por exemplo, os cheques devem fazer o mesmo trajecto para serem assinados e assim valerem para o funcionamento da escola. Sinceramente!
Resta saber (nem sabemos porquê duvidar) se o senhor director não recebe dois salários, em função do que faz! E se não recebe a culpa pode ser atirada a ele próprio, porque acabamos sabendo que, às vezes, o expediente deve ser levado à sua residência, para lhe roubar o merecido descanso.
Todavia, a culpa não pode ser encontrada na pessoa que é obrigada (?) a desempenhar múltiplas tarefas, lembrando-nos o ano de 1981, quando o ministro dos Negócios Estrangeiros de então, Joaquim Chissano, justificava, em Nampula, como mandatário do Presidente da República, Samora Machel, o facto de trazer mais um governador, segundo ele, do sul, Gaspar Zimba, por o Governo ter batido todos os cantos e não ter encontrado nenhum nortenho para aquele cargo. Páginas da nossa história!
Mas se a história foi assim tão má, como no exemplo acima, o presente não deve ser culpado de nada! Sendo a Educação e Cultura, o maior jazigo de quadros, que até os empresta para directores provinciais, ministros, presidentes, não deve ter cabimento que não tenha para si própria!
Deixe-nos que digamos, ainda que seja apenas por dizer, que isto denuncia a falta de muita coisa, incluindo a planificação, de quem decidiu que o director da escola devia ser provincial dos Transportes ou mesmo de quem tirou o(a) anterior daquele pelouro, sem saber aonde iria buscar quem fechasse a lacuna. Logo, não parece pacífica, porque não planificada, como se tratasse de morte, a saída de quem estava a dirigir os transportes.
Seja como for, não deve ser a escola, logo, aquela, a sofrer da falta de planificação do Governo provincial ou central, dos apetites doutro nível, porque a despreparação ou desorganização daquele centro de conhecimento, pode-nos conduzir a não termos nunca mais, nem directores provinciais, governadores, ministros ou presidentes! Eis a importância da escola!
- PEDRO NACUO
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