Quero, antes de mais, saudar-te. Antes tarde de que nunca, meu Nelson. Tardio chego eu ao teu convívio desde que ti prometi que ti escrevia ontem. O prometido e' sempre devido. De todas as maneiras, estou indo aos poucos como se constuma dizer. Não fosse a velocidade dos acontecimentos que, as vezes, me colocam numa situação de pasmaceira. Os mais esclarecidos diriam ‘ó Dedé, a vida é assim!’.
Nelson hoje te escrevo, muito à proposito destas eleições internas; ou seja, locais e do aprofundamento da nossa jovem democracia. Sabes porquê chamo eleições internas, pois não? Tu sabes... Mas devo dizer que desde que a chamada comunidade internacional decidiu prescindir da observação das eleições locais nas autárquias, tudo ficou a mercê do regime do dia. Mesmo que se diga que mais de trezentos observadores foram registados há dias, tais não são de peso! Tira credibilidade ao processo, não é Nelson? Deixemos isso assim, mas registe isso porque vamos de futuro precisar de aclarar quando é que as eleições são eleições e quando é que são eleições de segunda linha.
Sobre as eleições locais per si, a meu ver é um exercício que deve ser de aprofundamento democrático e da elevação da participação do cidadão na escolha dos membros mais iluminados da sociedade para dirigir os destinos das autárquias locais durante um certo período, neste caso os 5 anos. Quero ser mais proativo aqui para dizer que Moçambique está de parabéns e num bom caminho por dar esta oportunidade única ao cidadão comum. Há países como a Coreia do Norte, Cuba, Birmania, Libia entre outros onde a ditadura monopartidária ainda impera e os cidadãos com liberdades drasticamente diminuidas. Em Cuba, por exemplo, só este ano de 2008, é que o cubano teve acesso a um simples aparelho de comunicação, telemóvel. Na Birmânia, os militares privam a liberdade de expressão do cidadão e na Líbia só um partido é permitido, o do Coronel Muamar Kadafi.
Ainda que a derrocada final ao regime monopartidário e draconio da Frelimo seja uma realidade entre nós, continuamos a assistir os seus véstigios, promotores e seguidores na praça pública. O uso abusivo da palavra, dos bens públicos por parte dos elementos do Partidão; uma reminescência do sistema político ditatorial continua a tomar os moçambicanos de apreensão e medo. Nelson, poderias me perguntar que sinais eu noto que me levam a sustentar este meu reparo. Ora, a Frelimo tem amiudemente se autoproclamada único partido ‘maduro’, ‘experiente’. Ora a Frelimo poderá estar muito sazonada e versada, mas veja só Nelson o sofrimento e pobreza aguda que nos trouxe nos últimos 33 anos de Independência. Os moçambicanos continuam a viver no limiar da pobreza absoluta. E para mais achas 'a fogueira, veio o candidato Bulha ao terreiro vocifero: ‘caixões gratuítos’; um não à saúde aos moçambicanos. Já viste o que é isto, ó Nelson? Não me vou alongar mais, só para dizer que, na parcela do país onde vives, se deu uma ‘virada’ política histórica que constitui, julgo eu, pano para manga, um verdadeiro ‘laboratório’ para os historiadores, sociológos, sociolinsguístas ensaiarem as suas teses.
A decisão de Daviz Simango candidatar-se como independente a sua própria sucessão é a que mais 'reverbera' nessa 'virada', depois que pretérido pelo seu próprio Partido, a Renamo. Parecendo que não ele rescreveu, com sinal pândito e claro, os conceitos da participação popular, democracia e seleção de candidatos nos partidos, pós-moderna. Tal vai informar como Moçambique deve ser gerido nos próximos tempos, sem me esquecer dos papéis dos órgãos de soberania, como a CNE, PGR e CC que parece andarem à ilharga de cuja fossilisação impera a construção democrática neste país, neste momento.
Um abraço forte!
Dedé
Sem comentários:
Enviar um comentário