Centenas de cidadãos impedidos de se habilitarem devido à morosidade deliberada do processo
Fernando Nhaca, Candidato pelo MDM |
Polícia
presente dentro dos postos de recenseamento impediu trabalho da
imprensa com a cumplicidade do pessoal do STAE e até prendeu jornalistas
Inhambane
(Canalmoz) – A actualização do recenseamento eleitoral para as
“intercalares” em Inhambane terminou ontem mas ficaram por recensear
centenas de cidadãos, sobretudo jovens e mulheres que enchiam as
prolongadas bichas que se formaram desde as primeiras horas da manhã. O
processo de recenseamento continuou muito moroso mas notava-se em todos
os postos por onde passamos, designadamente na EPC 3.0 Congresso e 25 de
Setembro, grandes aglomerados que se concentraram desde as primeiras
horas da manhã para se habilitarem a votar, mas tiveram que esperar
horas a fio sem poderem atingir os seus objectivos.
As
pessoas acusavam o STAE de estar premeditadamente a ser lento no
recenseamento para impedir que os jovens se recenseassem, mas por isso
mesmo insistiam em tentar. Uns iam aos seus afazeres e voltavam mais
tarde, outros não arredavam pé.
Durante
todo o tempo em que durou o recenseamento houve avarias nos
computadores, falta de energia, exigências que não constavam do role de
normas da CNE. Esses constrangimentos foram confirmados ao Canalmoz pela
directora do STAE na cidade e pelo director do STAE na província de
Inhambane.
Toda
a gente que foi aceitando esperar por melhor oportunidade, ontem, vendo
que era o último dia provocaram enchentes sem precedentes em todos os
postos.
O
Director-geral do STAE garantiu ao meio da tarde de ontem que se iria
prorrogar o encerramento dos postos de recenseamento para além das 16
horas, mas isso não foi suficiente para que a todos os cidadãos fosse
assegurado o direito a poderem votar no próximo dia 18 de Abril, porque a
informação chegou muito tarde a quem ela realmente poderia ser útil.
Desde
as primeiras horas da manhã os postos estiveram repletos de gente.
Pode-se dizer, centenas de pessoas. Ao início da tarde, na cidade de
Inhambane, eram enormes as bichas de cidadãos, jovens principalmente,
que acorriam aos postos de recenseamento para se inscrever. Saiam para
as aulas e voltavam na tentativa de se inscreverem, mas o processo era
ostensivamente moroso.
A
avaliar pelo ritmo em que decorria o processo, tudo indicava que até às
16 horas muitas pessoas estariam ainda por ser recenseadas. E muitas
ficaram por se recensear acusando o STAE de estar deliberadamente a
entrar em jogos estranhos.
Contactado
o director-geral do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral
(STAE), Felisberto Naife, este garantiu, em declarações ao Canalmoz, que
já dera ordens ao STAE em Inhambane para estender o prazo de
recenseamento que estava previsto para terminar às 16 horas.
“Já
falei com a directora provincial do STAE e dei orientações para se
distribuir senhas aos cidadãos que chegaram aos postos de recenseamento
antes de 16 horas de modo a que possam se recensear mesmo depois da hora
estipulada para o término”, disse Felisberto Naife ao Canalmoz.
Sobre
a presença maciça da Polícia nos locais de recenseamento, onde eram
eles a orientar os cidadãos que se dirigiam aos postos para se
inscrever, Naife disse desconhecer que tal estivesse a suceder. “Estou a
ouvir isto pela primeira vez consigo”, disse o dirigente máximo do
Secretariado Técnico de Administração Eleitoral ao nosso repórter.
A
Policia, que a lei obriga a estar a mais de trezentos metros dos postos
de recenseamento, estava dentro dos próprios postos. Em vários postos.
Há várias provas fotográficas disso. Um violação descarada da Lei.
Interferia deliberadamente com o processo e havia inclusivamente nos
postos de recenseamento elementos que ninguém sabia o que andavam ali a
fazer mas que se dizia serem agentes da Policia à civil. Sentia-se por
todo o lado um complot para que o processo não avançasse e os cidadãos
desistissem do acto. Várias pessoas se queixaram disso à nossa equipa de
Reportagem.
A
policia chegou inclusivamente a algemar um jornalista do Canalmoz/Canal
de Moçambique, Charles Inácio Baptista (Edwin Hounnou), que, entretanto,
foi mantido preso até às 18 horas e só foi libertado devido à
intervenção pronta do porta-voz do comando provincial da PRM em
Inhambane. A Policia interferiu com a actividade do jornalista e
obrigou-o a mostrar o produto do seu trabalho. Apreendeu-lhe a máquina
fotográfica, o gravador, o telemóvel e até a viatura.
Na
ronda que efectuámos pelos postos os cidadãos acusavam deliberadamente o
STAE de estar a obstruir o processo de recenseamento.
Na
escola 3 Congresso, no centro da cidade de Inhambane, ao lado da Escola
Superior de Hotelaria e Turismo a supervisora chegou mesmo a ordenar à
Policia que impedisse a nossa reportagem de fotografar a existência de
agentes dentro do posto de recenseamento.
Ficaram por se recensear centenas de pessoas devido ao péssimo funcionamento do sistema do STAE local. (Borges Nhamirre, Fernando Veloso, Edwin Hounnou e Luciano da Conceição)
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