Canal de Correspondência
por Ericino de Salema
Maputo
(Canalmoz) – Na esteira das notícias que têm sido publicadas pelo Canal
de Moçambique desde a semana passada, tendo como objecto o relatório de
auscultação a docentes, discentes e CTA (Corpo Técnico e
Administrativo) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), o reitor daquela
instituição pública de ensino superior, o Prof. Doutor Orlando
Quilambo, concedeu, esta quinta-feira, uma conferência de Imprensa, na
qual disse, de entre várias coisas, o seguinte:
–
Que as conclusões do inquérito são apenas simples constatações de
alguns membros da UEM e podem não reflectir a verdade dos factos;
– Que lamenta o facto de ter havido fuga de informação até ao ponto de ser publicada sem autorização da UEM.
Antes
de tecer os meus modestos comentários em torno dos pontos acima,
cumpre-me reconhecer a ousadia e coragem que o Doutor Orlando Quilambo
teve em criar uma comissão para proceder à auscultação cujos outcomes
estão agora a ser disseminados pelo Canal de Moçambique. Em boa verdade,
o reitor até já conhecia muito do que se acha vertido nas cerca de 100
páginas do relatório, mas, cientista que é, não teria como se defender
se se apoiasse num hipotético “segundo eu”. E foi, a referida comissão,
constituída por académicos e técnicos de créditos mais do que firmados.
Quanto
aos dois pontos que achei particularmente relevantes nos relatos que os
media fazem da conferência de Imprensa na quinta-feira, começo por
dizer que discordo completamente das ideias do Doutor Orlando Quilambo.
Não hesito mesmo em afirmar que ele perdeu uma oportunidade de se manter
calado, tendo em conta o deslize em que incorreu.
Quando
diz que “as conclusões do inquérito são apenas simples constatações de
alguns membros da UEM e podem não reflectir a verdade dos factos”, o
reitor está a admitir, a meu ver, que se tratou de um exercício inútil,
pois, no lugar de captar o ‘estado das coisas’ da globalidade daquela
instituição, como ele próprio pretendeu quando criou a comissão que se
encarregou pelo exercício, acabou-se, no fim do dia, com “simples
constatações dalguns membros da UEM”.
Renomado
cientista que é, será que o Doutor Orlando Quilambo já não acredita no
inquérito como instrumento útil em exercícios similares, apesar de serem
por demais (re)conhecidas as suas limitações? Para que serve, afinal, a
técnica de amostragem? Esperava o reitor que se ouvissem todos os
docentes, um a um, fazendo-se o mesmo para com todos os estudantes e
elementos do CTA? Se fosse chamado, o magnífico, a provar uma panelona
de sopa, para dizer se ela está ou não boa de sal, será que teria que
tomar todo o conteúdo?
Como
se isso fosse pouco, creio eu que o reitor daquela que é a mais antiga e
mais reputada instituição de ensino superior do país acabou, obviamente
sem querer, pondo em causa a reputação académico-científica dos
integrantes da comissão que ele próprio criou, sendo, alguns deles,
renomados mesmo além fronteiras, concretamente em universidades bem
cotadas em rankings credíveis.
No
segundo ponto que destaquei para comentário – no qual “lamenta o facto
de ter havido fuga de informação até ao ponto de ser (o
relatório/inquérito) publicado sem autorização da UEM” – parece-me estar
reflectido um outro deslize do reitor! Ora vejamos:
–
Que legitimidade tem o Doutor Orlando Quilambo, no campo jornalístico,
para julgar quando é que uma publicação tem que considerar a publicação
duma determinada matéria?
–
Acha, o magnífico reitor, que o jornal que veiculou os resultados do
inquérito tem responsabilidades na “fuga de informação”? Algum elemento
do Canal de Moçambique integrou a comissão?
–
Diz ainda o cientista Orlando Quilambo que o inquérito foi publicado
“sem autorização da universidade”. Não esperava ouvir isso de uma pessoa
tão equilibrada quanto o actual reitor da UEM. Não ficaria, o
jornalismo, paralisado, se os seus profissionais tivessem que pedir
autorização para publicar as suas notícias e reportagens? Na verdade,
mesmo os jornalistas do sector público possuem (pelo menos
nominalmente), na esteira do que estabelece o artigo 48 da Constituição
da República, as fundamentais garantias de isenção e independência;
– O
que o Canal de Moçambique está a fazer é o que se esperaria de qualquer
órgão de informação digno desse nome que ao relatório tivesse acesso,
sendo indiscutível o interesse público das matérias nele contidas.
Aproveito esta oportunidade para recordar o que o antigo presidente do
Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse certa vez a um jornal: “Para
mim, notícia é tudo aquilo que um político profissional não quer que
seja publicado sobre ele. O resto – aquilo que o mesmo político quer que
se publique – é propaganda e não notícia”.
Julgo
que o Prof. Doutor Orlando Quilambo precisa de dar outra conferência de
Imprensa, para clarificação das ‘zonas de penumbra’ resultantes das
suas declarações públicas desta quinta-feira. Bom moçambicano que sou,
sei que os “escovas” do Gabinete de Comunicação terão dito ao reitor da
UEM, de imediato, coisas como “deu uma grande lição, magnífico!”. A UEM
tem que continuar a ser ‘Escola Crítica’ ou algo a isso parecido, e não
um covil de “experts sem expertise” que aderem imediatamente ao
aparente, arrastando, com isso, os seus assessorados ao “mato”! (Ericino de Salema)
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