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segunda-feira, 12 de março de 2012

Os deslizes do reitor da Universidade Eduardo Mondlane

Canal de Correspondência
por Ericino de Salema


Maputo (Canalmoz) – Na esteira das notícias que têm sido publicadas pelo Canal de Moçambique desde a semana passada, tendo como objecto o relatório de auscultação a docentes, discentes e CTA (Corpo Técnico e Administrativo) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), o reitor daquela instituição pública de ensino superior, o Prof. Doutor Orlando Quilambo, concedeu, esta quinta-feira, uma conferência de Imprensa, na qual disse, de entre várias coisas, o seguinte:

– Que as conclusões do inquérito são apenas simples constatações de alguns membros da UEM e podem não reflectir a verdade dos factos;

– Que lamenta o facto de ter havido fuga de informação até ao ponto de ser publicada sem autorização da UEM.

Antes de tecer os meus modestos comentários em torno dos pontos acima, cumpre-me reconhecer a ousadia e coragem que o Doutor Orlando Quilambo teve em criar uma comissão para proceder à auscultação cujos outcomes estão agora a ser disseminados pelo Canal de Moçambique. Em boa verdade, o reitor até já conhecia muito do que se acha vertido nas cerca de 100 páginas do relatório, mas, cientista que é, não teria como se defender se se apoiasse num hipotético “segundo eu”. E foi, a referida comissão, constituída por académicos e técnicos de créditos mais do que firmados.
Quanto aos dois pontos que achei particularmente relevantes nos relatos que os media fazem da conferência de Imprensa na quinta-feira, começo por dizer que discordo completamente das ideias do Doutor Orlando Quilambo. Não hesito mesmo em afirmar que ele perdeu uma oportunidade de se manter calado, tendo em conta o deslize em que incorreu.

Quando diz que “as conclusões do inquérito são apenas simples constatações de alguns membros da UEM e podem não reflectir a verdade dos factos”, o reitor está a admitir, a meu ver, que se tratou de um exercício inútil, pois, no lugar de captar o ‘estado das coisas’ da globalidade daquela instituição, como ele próprio pretendeu quando criou a comissão que se encarregou pelo exercício, acabou-se, no fim do dia, com “simples  constatações dalguns membros da UEM”.
Renomado cientista que é, será que o Doutor Orlando Quilambo já não acredita no inquérito como instrumento útil em exercícios similares, apesar de serem por demais (re)conhecidas as suas limitações? Para que serve, afinal, a técnica de amostragem? Esperava o reitor que se ouvissem todos os docentes, um a um, fazendo-se o mesmo para com todos os estudantes e elementos do CTA? Se fosse chamado, o magnífico, a provar uma panelona de sopa, para dizer se ela está ou não boa de sal, será que teria que tomar todo o conteúdo?
Como se isso fosse pouco, creio eu que o reitor daquela que é a mais antiga e mais reputada instituição de ensino superior do país acabou, obviamente sem querer, pondo em causa a reputação académico-científica dos integrantes da comissão que ele próprio criou, sendo, alguns deles, renomados mesmo além fronteiras, concretamente em universidades bem cotadas em rankings credíveis.
No segundo ponto que destaquei para comentário – no qual “lamenta o facto de ter havido fuga de informação até ao ponto de ser (o relatório/inquérito) publicado sem autorização da UEM” – parece-me estar reflectido um outro deslize do reitor! Ora vejamos:

– Que legitimidade tem o Doutor Orlando Quilambo, no campo jornalístico, para julgar quando é que uma publicação tem que considerar a publicação duma determinada matéria?

– Acha, o magnífico reitor, que o jornal que veiculou os resultados do inquérito tem responsabilidades na “fuga de informação”? Algum elemento do Canal de Moçambique integrou a comissão?

– Diz ainda o cientista Orlando Quilambo que o inquérito foi publicado “sem autorização da universidade”. Não esperava ouvir isso de uma pessoa tão equilibrada quanto o actual reitor da UEM. Não ficaria, o jornalismo, paralisado, se os seus profissionais tivessem que pedir autorização para publicar as suas notícias e reportagens? Na verdade, mesmo os jornalistas do sector público possuem (pelo menos nominalmente), na esteira do que estabelece o artigo 48 da Constituição da República, as fundamentais garantias de isenção e independência;

– O que o Canal de Moçambique está a fazer é o que se esperaria de qualquer órgão de informação digno desse nome que ao relatório tivesse acesso, sendo indiscutível o interesse público das matérias nele contidas. Aproveito esta oportunidade para recordar o que o antigo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse certa vez a um jornal: “Para mim, notícia é tudo aquilo que um político profissional não quer que seja publicado sobre ele. O resto – aquilo que o mesmo político quer que se publique – é propaganda e não notícia”.
Julgo que o Prof. Doutor Orlando Quilambo precisa de dar outra conferência de Imprensa, para clarificação das ‘zonas de penumbra’ resultantes das suas declarações públicas desta quinta-feira. Bom moçambicano que sou, sei que os “escovas” do Gabinete de Comunicação terão dito ao reitor da UEM, de imediato, coisas como “deu uma grande lição, magnífico!”. A UEM tem que continuar a ser ‘Escola Crítica’ ou algo a isso parecido, e não um covil de “experts sem expertise” que aderem imediatamente ao aparente, arrastando, com isso, os seus assessorados ao “mato”! (Ericino de Salema)

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