Tunísia formou Governo de unidade nacional (RTP)
Na Tunísia foi hoje formado um Governo provisório de coligação com o objetivo de recuperar a estabilidade política e conduzir o país a eleições. Dias depois da revolta popular que depôs o Presidente Zine al-Abidine Ben Ali, o primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi chamou várias personalidades da oposição para integrarem o novo executivo, sendo que alguns ministros-chave do anterior Governo se mantiveram nos postos.
Gannouchi, que foi, até há pouco, um colaborador próximo do Presidente deposto, disse que o novo Governo está determinado a libertar todos os presos políticos e a permitir partidos até agora ilegalizados e garantiu que todos os que aparentarem grande riqueza ou forem suspeitos de corrupção vão ser sujeitos a uma investigação.
O anúncio surge poucas horas depois de um milhar de manifestantes ter saído à rua em Tunes para exigir que o RCD, o partido do presidente deposto, abandone o poder. Alguns dos que participaram no protesto diziam que não aceitariam que membros do Governo de Ben Ali se mantivessem na nova coligação. A polícia recorreu a canhões de água, gás lacrimogéneo e tiros para o ar para dispersar o protesto.
Os ministros que vão manter os postos no novo executivo são o da Defesa, do Interior, das Finanças e dos Negócios Estrangeiros. Entre os opositores de presidente deposto que são chamados a assumir pastas conta-se o fundador do Partido Progressista Democrático, Najib Chebbi, que será o ministro do Desenvolvimento Regional. Outras figuras da oposição como Ahmed Ibrahim e Mustafa Bem Jaafar, também vão desempenhar funções governamentais.
O Presidente do Parlamento, Fouad Mebazza, que assumiu interinamente a Chefia do Estado depois de Ben Ali ter fugido para o estrangeiro, tinha pedido ao primeiro-ministro Gannouchi para formar um Governo de unidade nacional e as autoridades constitucionais dizem que é necessário que sejam convocadas eleições presidenciais no prazo de 60 dias.
Em entrevista à TV Al Arabya, Mohammed Ghannouchi disse que eleições legislativas teriam lugar "o mais tardar dentro de seis meses"."Fantochada"Moncef Marzouki, um professor de medicina que se encontra exilado em França, e a partir de lá lidera o partido CPR, na oposição, já disse que será candidato no próximo escrutínio presidencial.
Numa entrevista a TV francesa I-Télé classificou a formação do novo Governo como “uma fantochada” , e de “uma falsa abertura” pois vários ministros do ex-Presidente mantém-se no poder.
Ben Ali fugiu sexta-feira para a Arábia Saudita , após semanas de violentos protestos nas ruas, provocados pelo desemprego, corrupção, pobreza e repressão no país, nos quais morreram pelo menos 100 pessoas.
Fontes do Banco Central afirmaram, em privado, que a família do antigo presidente retirou cerca de tonelada e meia de ouro daquela instituição que levou consigo para fora do país. O valor do ouro roubado rondaria os cinquenta milhões de euros .Portugueses começaram a chegarEntretanto Já chegou a Lisboa o primeiro grupo de cidadãos portugueses vindo da Tunisia.
Dois adultos e adultos e três crianças chegaram esta manhã ao Porto. Dizem-se satisfeitos por estar em Portugal, em segurança, mas também manifestam vontade de regressar rapidamente à Tunísia onde se encontravam a viver. De caminho teceram críticas à embaixada portuguesa em Tunes que acusam de não lhes ter dado qualquer apoio.A proteção francesa ao ditador depostoNa Tunísia as milícias que continuaram fiéis a Ben Ali parecem combater sem qualquer perspetiva de saída política. O ex-presidente, deposto no ocaso de uma ditadura de 23 anos, não mostra qualquer intenção de regressar ao país. Os rumores de que iria refugiar-se em França, potência que de longa data o protegia, acabaram por não se confirmar. O Palácio do Eliseu ou o Quai d’Orsay, ou ambos, terão acabado por achar demasiado incómodo acolher um protegido que nos últimos dias acrescentara a um extenso rol de atropelos a repressão sangrenta das manifestações de protesto.
Ainda no dia 11 de janeiro a ministra francesa dos Negócios Estrangeiros, Michèle Alliot-Marie, tinha proposta ao então presidente Ben Ali uma cooperação com vista a manter a ordem e controlar as manifestações. Na sequência do choque causado por essa proposta, um conselheiro do presidente Nicolas Sarkozy, Henri Guiano, reconheceu agora que a política externa francesa possa ter sido inábil ou desastrada. Citado pela agência France Press, Guiano perguntou: "Que querem que vos faça? Ninguém podia prever que as coisas chegariam tão rapidamente (...) tão longe, e que rapidamente se tornariam tão dramáticas". E concluiu: "Não compete à França ser o polícia do Mediterrâneo".
Segundo Guiano, "é muito difícil para os governos não tomarem em conta as situações de facto, não dialogarem, cooperarem com os governos que estão em funções". E isso, segundo o conselheiro de Sarkozy, é especialmente difícil em antigas colónias ou protetorados franceses: "A Tunísia, Marrocos, a Argélia, são para a França quase problemas de política interna, de tal modo os laços são profundos, estreitos".Em busca do tempo perdidoEm busca do tempo perdido, e também do prestígio internacional hipotecado pela sua colega de gabinete Alliot-Maire, a ministra francesa da Economia, Christine Lagarde, prometeu hoje que os bens tunisinos suspeitos seriam submetidos nos bancos franceses a uma vigilância particularmente apertada por parte do Tracfin, o organismo governamental vocacionado para o exercício desse tipo de controlo. O Tracfin, como explicou Lagtarde, tem o poder de "bloquear [uma ooperação] durante 48 horas e de fazer depois intervir uma instância judicial", e, acrescentou, "é muitas vezes o que se faz em situações equívocas deste tipo, em casos de mudança ou transição de regime".
Segundo Lagarde, "pedimos a Tracfin que exigisse a todos os bancos franceses uma vigilância extrema sobre todos os movimentos de fundos e pedidos de transferência relativos a contas e bens tunisinos". Os bancos, disse, "devem em caso de movimento anormal, curioso pelo seu montante, alertar o Tracfin".Fogos fátuos de uma ditaduraSó com dificuldade Ben Ali conseguiu encontrar um país de asilo – e encontrou-o sob a asa protetora da dinastia saudita. E só com dificuldade conseguiu encontrar um piloto que o levasse até Riad, depois de o primeiro incumbido da tarefa ter desobedecido frontalmente à ordem dada nesse sentido.
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