Hermenegildo Infante (HI) – O ano de 2010 foi um ano de muito trabalho a nível do partido na cidade do Maputo. Decidimos, em 2010, como uma das tarefas principais do partido a admissão de membros. Porquê, porque quando fizemos o balanço do processo eleitoral, constatámos que temos muitos cidadãos que, embora tenham votado na Frelimo, não eram membros. Então, decidimos, assim, planificar a admissão de muitos membros. Era uma primeira experiência, que resultou. Chegámos ao final do ano com cerca de 12500 membros.Em 2009, não chegávamos a cinco mil membros novos. O processo que realizámos o ano passado serviu também para revitalizarmos as próprias células do partido. De uma maneira geral, as células do partido esperavam que o cidadão fosse lá entregar-se, não faziam o trabalho de mobilização. Então, quando nós planificamos e depois redimensionamos as células, elas viram-se obrigadas a admitir mais membros.
De uma maneira geral, podemos dizer que em 2010, trabalhámos sem muitos sobressaltos, tirando os acontecimentos de Setembro, que resultam, naturalmente, da situação conjuntural, da crise económica e financeira internacional de que Moçambique não podia ficar a leste. Essa crise se reflecte também na cidade e o partido não pôde ficar insensível a isso. Parte do nosso orçamento provém de doações ou créditos e os países que têm dado dinheiro ao nosso país também se ressentiram da crise. Muito embora se tenham prontificado em doar dinheiro, o processo de desembolso foi lento. Isso levou a que a situação no nosso país se sentisse com maior acuidade.
O custo de vida se elevou muito o ano passado e foi isso que resultou no desacato de Setembro. O cidadão comum muitas vezes não percebe isso, quer ver os problemas do seu dia-a-dia resolvidos. Mas tivemos muitos avanços, na área económica, política e na área social. Foi o primeiro ano em que a educação a nível primário começou a ser dirigida pelo município. Como partido, acompanhámos este processo, que não foi fácil. Mas a nosso ver correu bem.
Os resultados escolares poderiam ter sido piores do que foram, na medida em que era o ano de transição do Governo para o município, mas não tivemos muitos problemas a nível do ensino primário. Na esfera económica, notámos com agrado que houve um certo crescimento, de uma maneira global. Isto resultou dos investimentos que o nosso país está a receber.
Há muitos investidores que apareceram na cidade do Maputo e que estão a realizar obras que são um grande contributo do ponto de vista de redução do desemprego. Na área de defesa e segurança, comparativamente a outros anos, 2010 não foi tão violento. Isto foi resultado, digamos, de consolidação das experiências dos conselhos de policiamento comunitário, por um lado, mas também a PRM fez um grande trabalho de reorganização e isso baixou o índice de criminalidade.
Por isso, podemos dizer com muita alegria que a quadra festiva foi das mais calmas que já tivemos. Mas também tivemos problemas em 2010, alguns dos quais ainda se arrastam até hoje. Temos o problema de transporte, que merece a nossa atenção especial.
O ano passado, vimos o fenómeno de encurtamento de rotas. Fomos trabalhando com o Conselho Municipal e o Governo da Cidade para vermos se conseguíamos resolver o problema. Demorou porque o Conselho Municipal preferiu primeiro preparar a força, cujo processo de formação terminou em Dezembro. Começou-se a introduzir o sistema de controlo que agora mais ou menos está a melhorar. Agrava-se o problema de transporte porquê? Nos últimos tempos, há alguns que não estão satisfeitos com as medidas que estão a ser tomadas.
O resultado é que algumas viaturas, sobretudo as pequenas, que inundavam a cidade do Maputo, hoje não estão. Estão fora da cidade. Ora, esta atitude, obviamente, encarece o transporte, de uma maneira geral. Há um esforço que está sendo feito pela empresa TPM mas não pode satisfazer porque as unidades que tem são insuficientes. Sentimos esse problema dos transportes e acreditamos que, agora que o ano lectivo está a começar, vamos ter nos próximos tempos muitas dificuldades. Estamos a trabalhar com o Conselho Municipal e o Governo da Cidade para ver se podemos encontrar uma forma visando reforçar o transporte naqueles momentos críticos, através dos TPM. Este fenómeno dos transportes naturalmente que interfere na política e não podemos deixar isso apenas a cargo do município e do Governo.
Nós também temos que nos preocupar. A falta de transporte afecta de uma maneira geral todo um sistema de organização da cidade. As pessoas chegam tarde ao trabalho, os camponeses na nossa zona verde vão tarde aos campos, as crianças chegam tarde às aulas. É realmente uma situação muito difícil. E isso encarece a vida.
(N) - Face a esta situação, que recomendações específicas o partido fez ao Governo?
(HI) – Em relação ao município, reiteramos que é preciso combater o encurtamento de rotas. Com relação aos TPM, dissemos que é preciso, naquelas rotas que têm maior fluxo de pessoas, privilegiar nas horas de ponta reforçar, ainda que seja redução naquelas rotas que têm muita pressão, para permitir que as pessoas não fiquem muito tempo nas paragens à espera de transporte.
Mas também fazemos pressão ao Governo, no sentido de importação de mais unidades para a cidade do Maputo. É uma medida que foi tomada há bastante tempo, de que é preciso substituir os carros pequenos por grandes.
Esta medida não está a ser muito bem entendida pelos proprietários, vai daí que não se preocupam muito e então hoje fazem pressão para que sejam relicenciados os carros pequenos. Mas a pressão que a nossa cidade tem de viaturas, a admitir esses carros pequenos, não sabemos onde vamos andar. A orientação que estamos a fazer a nível do Governo é que se faça pressão junto do Ministério dos Transportes e Comunicações no sentido de importação de mais veículos grandes.
Por outro lado, com o Conselho Municipal a reorganização do sistema de transporte no sentido de concessionamento de rotas. Estudar as vantagens, porque entendemos nós que se houver aderência neste processo de concessionamento de rotas também pode ajudar a reduzir a pressão que neste momento temos.
Apostar nos TPM nas horas de ponta
Maputo, Quarta-Feira, 19 de Janeiro de 2011:: Notícias
(N) – Mas são soluções que estão a levar o seu tempo. Enquanto não chegam, os cidadãos estão entregues à sua sorte…
(HI) – Naturalmente. Há coisas cuja solução não é de já para já. É preciso dinheiro para importar carros e nós não temos. Mas o Governo assegurou-nos que já fez umas importações, só que as viaturas estão a chegar a conta-gotas, para aquilo que é nossa preocupação. Se tivessem chegado todas, a situação seria diferente. A saída é utilizarmos os poucos meios que temos, sobretudo naqueles momentos de pressão. Não faz sentido que no tempo de pressão apareça um autocarro a recolher ao hangar. Também demos orientação no sentido de os autocarros não pararem enquanto os estudantes tivessem aulas. Esta medida começou a surtir efeito o ano passado.
(N) – Essa decisões ou recomendações do partido são fiscalizadas pelo próprio partido?
(HI) – Fiscalizamos sim. Todas as quintas-feiras, aqui, a governadora e o presidente do Conselho Municipal têm que nos falar do ponto de situação, sobretudo quando são essas coisas de crise. Vou dar um exemplo: quando o Governo tomou aquelas medidas de contenção, passado um mês, nós na cidade reunimos com o Governo para sabermos o estágio de sua implementação. Nós também nos reunimos com os distritos, a nível das estruturas de base, para poderem ajudar na fiscalização.
(N) – Que balanço faz à implementação dessas medidas?
(HI) – Estão a surtir efeito. Não foi fácil, mas com a acção das estruturas de base, estamos a notar que estão a surtir efeito. Vamos falar, por exemplo do pão. Algumas padarias não estavam a acatar a decisão. Não aumentavam o preço do pão, mas diminuíam o seu peso. Em Dezembro fizemos um trabalho muito mais incisivo de controlo com o nosso Governo.
O difícil acesso à cidade e a problemática dos buracos
Maputo, Quarta-Feira, 19 de Janeiro de 2011:: Notícias
(N) – Falou da situação dos transportes na cidade. Mas estradas também são um “calcanhar de Aquiles”, não? O acesso à cidade está muito complicado nos dias de hoje…
(HI) – O acesso à cidade está muito complicado e agora agravado pelas chuvas. Mas há um trabalho que está a ser realizado. Eu acredito que se tivéssemos terminado aquelas obras da Avenida de Moçambique, se calhar a situação fosse a melhorar. O acesso torna-se muito difícil a partir do Jardim até Benfica. Mas o município tem um projecto e eu acredito que vai resultar. Temos muitas viaturas na cidade e as estradas não estavam preparadas para tanto volume de carros. Temos também problemas graves de parqueamentos na cidade.
(N) – E os buracos não são tapados em devido tempo…
(HI) – Se tem notado, há um esforço que está a ser feito neste momento. Não é como dantes. Tínhamos mais dificuldades, mas agora, tirando as chuvas, há melhorias. Tenho encontrado maquinetas do Conselho Municipal a tapar buracos. Nós falamos semana passada com o camarada David que é preciso prestar muita atenção aos pequenos buracos que estão a aparecer nas estradas. Não podemos pensar que quando parar a chuvas é que se vai fazer o trabalho. É verdade que as chuvas estragaram muito. Isso vai precisar de um grande esforço do Conselho Municipal.
(N) – Está o partido satisfeito com o desempenho do Governo e do município?
(HI) – Estamos satisfeitos sim. Há muitas coisas ainda por fazer, mas nós estamos satisfeitos, porque o Conselho Municipal está a conseguir cumprir aquilo que prometeu. Dissemos que é preciso olhar também os subúrbios. Há este projecto que, digamos, está arrancar no Chamanculo, de reordenamento do bairro. É um processo que vai começar no Chamanculo e KaMaxaquene também, que é para ver se damos uma nova vida aos bairros.
(N) – O que significa, concretamente? Implica remover as pessoas e construir novas habitações do tipo prédio?
(HI) – É inevitável a remoção das pessoas. O que pretendemos é que haja vias de acesso. As pessoas que forem afectadas vão ser transferidas para outro lado. Não digo construção de prédios, porque para isso o município não tem dinheiro. Mas acredito que com o crescimento vertical resolveremos os problemas de Chamanculo, da Mafalala, e isso será concretizado um dia se o nosso Governo tiver dinheiro. É preciso reordenar os bairros, termos vias de acesso para permitir os serviços de bombeiros, de saúde, e não só, a circular à vontade. É um processo que não é pacífico.
DESAFIOD PARA 2011
Maputo, Quarta-Feira, 19 de Janeiro de 2011:: Notícias
(N) – Quais são os desafios do partido na cidade para este ano, tendo em conta que em 2012 realiza-se o X Congresso?
(HI) – Um dos grandes desafios que temos na cidade do Maputo é admissão de mais membros. Nós estamos agora nos 97 mil membros. Queremos ultrapassar esta fasquia, queremos falar de cento e tal mil membros e acreditamos que este ano vamos atingir. Isso traz vantagens na medida em que aumentamos o número de delegados ao congresso como também aumentamos o número de membros no próprio Comité Central.
Outro desafio é mesmo de orientar o Conselho Municipal para acelerar o passo na reorganização dos bairros e quarteirões. Os quarteirões de hoje não são aqueles quarteirões de antigamente. É difícil o controlo das pessoas. As pessoas que vivem num quarteirão não são conhecidas. O partido tomou o ano passado a decisão de que tem que haver reorganização dos quarteirões para que tenham um número controlável de pessoas. Não é controlo, digamos, naquele sentido de perseguição das pessoas, mas estar à altura de saber quem são as pessoas que vivem no quarteirão e que vem visitar. Isso acontece em qualquer parte do mundo.
Cada visitante que chega à cidade, cada estrutura do bairro deve conhecer. Dissemos ao Conselho Municipal para fazer isso. Se for necessário, a Assembleia Municipal tem que aprovar uma postura que obriga que a família que receba um visitante vá comunicar à estrutura. Hoje em dia as pessoas alugam as casas, estamos numa economia de mercado.
De dia não se consegue ver as pessoas, porque estão a dormir. À noite saem e vão fazer uma série de coisas. Então, nós queremos organizar a nossa cidade para que ela recupere a tranquilidade. Nós como partido, naturalmente vamos mobilizar as pessoas, fazer educação cívica das pessoas para saberem que estão a viver numa cidade e que é preciso haver harmonia. Também o nosso desafio para os próximos tempos tem a ver com a parte económica do nosso partido. Estamos apostados em criar condições para auto-sustento do partido.
Outro desafio é que a partir deste ano, todos os distritos vão receber o fundo de desenvolvimento. Neste momento, só KaTembe e KaNhaca é que recebem os sete milhões. Então, o partido tem de trabalhar no sentido de educar as pessoas para saberem utilizar este dinheiro. Temos também o desafio de formação dos nossos militantes. O ano passado inauguramos a Escola do Partido e este ano vai haver formação dos secretários das células e vamos também atingir as nossas organizações sociais.
- Felisberto Arnaça
Só dá p'ra uma forte cavaqueira e rizadas! Como é que um camarada que precisa de ser educado a usar os tais 7 milhoes vem ao terreiro dizer a nós como usá-lo? Qualquer coisa anda mal...
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