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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Jornais confiscados e eleição presidencial com 23 votos brancos

MEDIAFAX Especial X Congresso da Frelimo


Pemba, 26 Set. (mediaFAX)- Enquanto Eneias Comiche lia no pódio do Congresso os princípios de liberdade de imprensa e pluralismo defendidos na proposta de programa do Partido Frelimo, zelosos seguranças colocados na sala de plenários e cercanias recolhiam zelosamente dos delegados, esta terça-feira, cópias do jornal “Savana”e de “O País”, a mando do secretário de Mobilização e Propaganda, Edson Macuácua.
A edição do “Savana” tinha como tema de capa “O Congresso das Alas”, dando conta da existência de várias tendências no interior da Frelimo e “O País” fez capa com Jorge Rebelo, o militante da velha guarda que se insurgiu contra o racismo, a falta de abertura e diálogo e as pressões sobre a comunicação social.
Apesar de o “Savana” ter sido proibido de circular no recinto do X Congresso da Frelimo por instrução expressa de Margarida Talapa (da Comissão Política do partido), centenas de exemplares da última edição do semanário foram distribuídos gratuitamente aos delegados entre domingo e terça-feira desta semana. Aparentemente, o que enfureceu Macuácua foi a capa de “O País” dando grande destaque às declarações de Rebelo, depois de na segunda-feira, o “controleiro”dos media ter desesperadamente tentado evitar que a STV (o canal televisivo pertencente ao mesmo grupo de “O País”), transmitisse a intervenção no jornal da noite, o programa mais visto do país, com uma audiência média de 1,5 milhões de telespectadores diários. Segundo apurou o “mediaFAX”, os responsáveis da STV garantiram que não tinham filmado a intervenção de Rebelo, mas transmitiram uma cópia alternativa de um operador que se encontrava na sala à altura. Na segunda-feira à noite, a TVM, a televisão estatal “ignorou” Rebelo e a STV, não só abriu o jornal com a intervenção do mais crítico depoimento do Congresso, como recolheu as declarações do reitor da Universidade Politécnica, Lourenço do Rosário que considerou a decisão de Macuácua em cortar os “directos” televisivos como “um tiro no pé” da própria Frelimo. O “mediaFAX” sabe que foi necessária a intervenção do presidente Armando Guebuza para que os “directos” sobre os debates fossem reintroduzidos terça-feira, mas as sessões acabaram por ser manchadas pela repressão contra os dois jornais moçambicanos já referidos.
Quarta-feira, Edson Macuácua contactou um dos responsáveis do jornal “Savana” para explicar que foram “medidas de segurança” que levaram ao confisco dos jornais e que eles seriam restituídos posteriormente. Macuácua, que em paralelo com o secretário-geral, Filipe Paúnde são acusados pelas alas críticas da Frelimo de “malemisar” o partido, antes do congresso, tentou controlar os comentaristas que colaboram habitualmente com os canais televisivos, sendo apontado agora, durante do Congresso, de controlar quem diariamente se apresenta nos comentários da televisão estatal. O “mediaFAX” sabe e tem a identificação do sociólogo que na noite de terça-feira recebeu instruções por intermédio da direcção da TVM para desqualificar e minimizar os conteúdos da intervenção de Jorge Rebelo. O antigo “idéologo” da Frelimo precipitou da segunda-feira o corte abrupto do “directo” que estava a ser feito pela TVM, passando a ser transmitidas apenas mensagens de saudações das províncias e de delegações estrangeiras. O termo “malemisacão” deriva do antigo líder da juventude do ANC da África do Sul, Julius Malema que é visto como racista, ambicioso político populista e de ter enriquecido ilicitamente utilizando expedientes políticos.
Dado o grande número de inscritos nos debates do Congresso, foi imposta a regra de três minutos por intervenção, o que acabou por prejudicar as intervenções de Sérgio Vieira e Graça Machel que gostariam de ter mais tempo para explicarem os seus pontos de vista. Vieira, que vai neste Congresso abandonar o Comité Central, conseguiu fazer passar a ideia de criação de um fundo soberano decorrente da exploração dos recursos naturais. Machel, que trazia uma intervenção escrita, conseguiu passar a ideia da necessidade de maior qualidade da militância no partido e da necessidade de se diminuir a distância entre “os dirigentes da Frelimo e os outros”. Depois de ser interrompida por três vezes por Guebuza, Graça Machel abandonou o pódio. Guebuza teve de fazer uma excepção à regra dos três minutos para com o antigo presidente Joaquim Chissano que na sua intervenção, quarta-feira, depois de perguntar se ainda tinha mais tempo, foi acompanhado por uma estrondosa ovação dos delegados.
Nas delegações estrangeiras quem não conseguiu falar foi o representante do PSD de Portugal, Morais Sarmento. Quando o seu nome foi chamado, já se encontrava a caminho do aeroporto. Ao que o “mediaFAX” conseguiu apurar, Sarmento, sendo do partido governamental em Portugal, ficou irritado por antes dele terem discursado os representantes do Partido Socialista e do Partido Comunista de Portugal, ambos na oposição. Outros partidos que não apresentarão mensagens são a Renamo e o MDM, a oposição parlamentar à Frelimo e que não se fizeram representar no Congresso.
Quarta-feira foi o dia para eleição do candidato único Guebuza a presidente da Frelimo.Foi eleito por 98,76% dos delegados 23 votos em branco. Decorrente desta inevitabilidade, o dia do Congresso aconteceu, sobretudo, fora do espaço da reunião com os vários “lobbies” e campanhas muito activos, sobretudo para a eleição dos 64 membros do Comité Central(CC) que serão conhecidos em Pemba. De entre os nomes mencionados, avulta o de Valentina Guebuza, filha do presidente e gestora de parte dos interesses económicos da família e também conhecida como “princesa”, depois de um artigo na revista “Forbes” a ter comparado a Isabel dos Santos, a filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos. Os críticos consideram que esta candidatura, a vingar, passa para o exterior a ideia de sucessão dinástica, como acontece na Coreia do Norte. Outro empresário na corrida é Celso Correia, um jovem que preside ao grupo Insitec, um dos maiores do país. Outros nomes mencionados na ala juvenil são os de Carlos Mussanhane, envolvido no gabinete da esposa do presidente Guebuza, Osvaldo Pitersburgo, o presidente do Conselho Nacional da Juventude, Catarina Dimande, apresentadora de televisão e nora do general Alberto Chipande e Alberto Nkutumula, vice-ministro da Justiça e habitualmente o porta-voz do Conselho de Ministros. Na ala ministerial, Manuel Chang, o ministro das Finanças, muito discreto em questões políticas, poderá ser também candidato ao CC.

(mediaFAX). Leia aqui.

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