O Chefe do Estado, Armando Guebuza, ainda não encontrou, ao fim de quase seis anos de presidência, a pessoa certa para o ministério responsável pelo principal objectivo da sua governação: o combate à pobreza. Pacheco vai passar por uma prova de fogo.
Esta semana, Armando Guebuza deixou cair o sindicalista Soares Nhaca, tornando-o na terceira vítima como ministro da Agricultura.
Soares Nhaca chegou a este ministério em Dezembro de 2007, vindo do ministério do Trabalho, onde era vice de Helena Taipo. Com formação e experiência escassas na matéria [é-lhe reconhecido mérito pela implantação de farmeiros zimbabweanos em Manica, onde foi governador] e numa altura de carência e agravamento mundial dos preços de alimentos foi-lhe confiado o importante cargo de ministro.
O então governante até reagiu rápido à situação do momento, apresentando, juntamente com o ministro da Ciência e Tecnologia, Venâncio Massingue, e o ministro das Finanças, Manuel Chang, o Plano de Acção de Produção de Alimentos – PAPA.
Soares Nhaca tinha como principal responsabilidade fazer avançar a complicada estratégia de “Revolução Verde”, um plano arrasado pela crítica, considerado dúbio e sem pernas para andar.
No fundo, o fracasso da “Revolução Verde” - que não se justifica só pelos problemas na agricultura - é a razão da queda do ex-ministro, um homem que nunca conseguiu definir o conceito e encontrar um caminho para executar a estratégia.
De acordo com o PAPA, até ao próximo ano [faltam apenas 105 dias], o país deve eliminar a dependência alimentar, mas o Chefe do Estado compreendeu que não é preciso chegar lá para se concluir que a meta não será alcançada. E a culpa é toda de Soares Nhaca. Caiu.
O antigo vice-ministro do Trabalho sai e deixa assim um país vulnerável à instabilidade dos preços no mercado internacional, porque produz (muito) pouco. Esta situação forçou, recentemente, o Governo a subsidiar o preço do pão, na medida em que a crise do trigo, na Europa, pressionou o preço.
O Chefe do Estado deve também não ter gostado de ouvir que sete mil toneladas de farinha de trigo estavam sem mercado em Manica. Isto pouco depois das moageiras nacionais anunciarem o aumento do preço deste cereal devido à conjuntura mundial.
A produção de comida chegou a aumentar 10% na campanha agrícola 2008/2009, o que é insignificante para um país que produz 3 mil toneladas de trigo, contra as 472 mil necessárias; produz 223 mil toneladas de arroz, contra 539 mil necessárias; produz quase 83 mil toneladas de batata reno, contra 252 mil necessárias.
A estratégia de “Revolução Verde”, que tem em vista a auto-suficiência alimentar, levou à importação de várias centenas de tractores, mas os agricultores questionam em que mãos foram parar estes veículos importantes para o processo produtivo.
O recente Inquérito sobre o Orçamento Familiar, que mostra que a pobreza não desceu, foi a gota de água que fez o copo de água transbordar e Armando Guebuza precisava de dar respostas à sociedade, aos investidores e à comunidade internacional.
Soares Nhaca era a vítima mais provável, olhando para os maus resultados no pelouro, embora dirigisse um sector transversal, onde as estradas, energia, ciência e tecnologia, entre outros, desempenham um papel preponderante.
António Fernando
António Fernando acompanhou o presidente da República, no cargo de ministro da Indústria e Comércio, desde o início do mandato, em 2005. Ganhou visibilidade com a campanha Made In Mozambique, Produza e Consuma Moçambicano, mas cedo os agentes económicos atacaram-no, argumentando que a iniciativa não lhes acrescentava mais-valia nenhuma.
Engenheiro de formação, António Fernando ocupava uma pasta importante para equilibrar a balança de pagamentos, através do fomento das exportações, melhoria do ambiente de negócios e da produção e produtividade.
São pontos estratégicos para um país que descobriu tarde que a recessão económica estava a corroê-lo. Aliás, a necessidade de aumento da produção e produtividade nunca foi repetida tanto quanto hoje, desde que Armando Guebzua é presidente.
Nos últimos dois anos, a balança comercial desequilibrou-se acentuadamente, com as exportações da Mozal a caírem a pique, o que deixou claro que, depois de cinco anos como ministro, António Fernando não conseguia diversificar a base da economia moçambicana.
Ao sacrificar Soares Nhaca e António Fernando, simultaneamente, o presidente da República assumiu que são dois sectores complementares, com relevo para o desenvolvimento económico e social de Moçambique, que precisam de ganhar fôlego perante a instabilidade que o país atravessa.
Os motivos que levaram às manifestações de 1 e 2 de Setembro [aumento de custo de vida] estão, especialmente, ligados aos ministérios que Nhaca e Fernando abandonaram esta semana.
Mas há outros pecados que o anterior ministro da Indústria e Comércio cometeu. A estratégia de revitalização industrial transformou-se num dossier mal parado, sendo que ainda não se mostrou capaz de recuperar o vasto parque industrial adormecido ao longo do país, entre o qual se destaca a Mabor, Riopele, Belita, Cajuca e Maquinag.
A António Fernando parece terem faltado as capacidades diplomática e técnica necessárias para abrir corredores de comércio aos agentes económicos e angariar investimento para alimentar a economia.
A ministra dos Recursos Minerais, Esperança Bias, está a ser um exemplo na gestão da exploração de carvão em Tete. A Vale e a Riversdale e outros pequenos concessionários avançam em grandes projectos, mesmo estando ainda em cima da mesa a questão da logística de transporte.
Com a crise financeira a sacudir a economia nacional, o presidente Armando Guebuza foi buscar um economista e um agrónomo para, essencialmente, o ajudarem a reanimar os sectores que, desde que foi eleito, considerou serem os mais importantes para o desenvolvimento do país.
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