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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Cartas ao Presidente da República (47)

LEVIATÃ

Por Laurindos Macuácua
Cordiais saudações, senhor Presidente. Os seus dias... como é que estão sendo geridos?
Os meus vão de mal a pior. Sabe que até aqui não tenho notícias da minha família em Chókwè? Mas rumores há de que eles perderam tudo: o pequeno cabrito para a quadra festiva deste ano, o galo irreverente que ajudou muito lá na multiplicação da espécie, a enxada de cabo curto do meu avô... até o cão, coitadinho, foi engolido pela fúria das águas. Sabe, Presidente, nem sei por onde começar a ajudar a minha família. Eu também sou um Zé ninguém, acostumado a ouvir que a pobreza está na minha cabeça.
Estou um pouco indignado, porque quando a calamidade iniciou, quase todo o membro senior do partido Frelimo estava na farra na Ponta Vermelha, o palácio, a deliciar-se com iguarias que jamais provaremos. Provavelmente a Frelimo, ao ouvir gritos de socorro do povão, pensou que isto não chegaria a ser uma constipação ou uma gripe, mas uns espirros dispersos de reacção alérgica e que não vão conduzir a um diagnóstico verdadeiro.
Só que tudo isto já está a causar uma ferida que até está a gangrenar. O Presidente tem que deixar de confiar em relatórios. Tem que conhecer o País real, não só nas suas presidências abertas, mas também em tempos de luto. Será que viu de perto o que está a acontecer em Chiaquelane, para onde as pessoas se refugiaram das inundações? Pessoas comendo crostas das suas feridas. Por falta de água, bebem a sua imaginação.
Dormem ao relento e servem de repasto para os mosquitos sem piedade. Sugam a todos e pouco se importam se é um recém-nascido. E nós, a Frelimo, onde é que estamos? Ah! Já sei: estamos na fartura. A comer e beber do melhor. Se nós é que libertámos este País do jugo colonial português. Agora que nos aguentem!
O Presidente e eu sabemos que isto nunca vai melhorar, apesar do estribilho frelimista do futuro melhor. Vejamos o mesmo exemplo: depois das águas amainarem, há que reassentar os vitimados que perderam as suas casas. Há que reeguer um conjunto de infra-estruturas minimamente necessárias para o povo poder respirar. Quem vai fazer tudo isto?
A Frelimo? Até pode ser...
E mesmo não sendo, a verdade manda dizer que a Frelimo deixou de ter vergonha. Amanhã mesmo estará no mesmo local a pedir voto às mesmas pessoas que continuarão ao relento. E háde prometer o impossível: até o galo do meu avô! A minha mãe sempre disse: vale a pena não ter roupa porque os outros te vão emprestar. E vergonha: quem nos há-de emprestar?
DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 08.02.2013

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