A talhe de foice
Por Machado da Graça
Nesta fase da campanha eleitoral há um aspecto que me parece bastante interessante: Sempre que um elemento da oposição está a apresentar as suas promessas eleitorais há logo alguém, seja o entrevistador, sejam os comentadores, que perguntam onde irá ele buscar dinheiro para cumprir essas promessas, num país pobre como o nosso.
Mas o mais curioso é que, quando se trata de um candidato ou apoiante da Frelimo já ninguém se lembra de fazer a mesma pergunta. Dá a impressão que as pessoas acham que a Frelimo terá dinheiro para todos os seus projectos mas a oposição, caso chegue ao poder, não terá.
Ora, isto é, obviamente, um enorme erro.
Seja qual for o partido que ganhe as eleições presidenciais e, portanto, constitua Governo, terá exactamente o mesmo dinheiro para usar, isto é, os nossos impostos e o apoio da comunidade internacional.
O bolo será o mesmo, seja qual for o vencedor. A diferença estará na forma como ele será cortado e distribuído. Estará no tamanho das fatias que serão dadas a cada uma das áreas.
E é aí que se podem verificar as diferenças. Uns partidos poderão dar fatias maiores à Educação e Saúde e menores às estradas e abastecimento de energia. Outros cortarão maiores fatias para o apoio ao empresariado e menores para a Assistência Social. E por aí adiante.
É ao elaborar o Orçamento Geral do Estado para cada ano que o tamanho das fatias é decidido e, portanto, uma cuidadosa análise do
E vem a propósito referir uma informação que o Ministro da Ciência e Tecnologia deu há dias, em Genebra, na Suíça, de acordo com o boletim Moçambique Hoje.
Disse aquele dirigente que o nosso país está a trabalhar para criar a sua própria Agência Espacial.
Ora, pese embora a estima pessoal que tenho pelo Ministro Venâncio Massingue, não posso deixar de pensar que esse projecto é uma extravagância absolutamente inconcebível no nosso país.
Ir ao bolo do
Isto para não falar de estádios nacionais e outras despesas desnecessárias e de ostentação que seria fastidioso estar aqui a enumerar.
Portanto, fazer política é, em grande parte, fazer a definição dos critérios na divisão do bolo do
E essa será a principal tarefa do Governo que será formado pelo Presidente da República que for eleito no próximo dia 28.
Tendo já a garantia, dada pelo general Chipande, de que o novo Governo será da Frelimo.
Na verdade, de acordo com o boletim Moçambique Hoje, Chipande terá declarado em Sofala:
Daqui não saímos, daqui ninguém nos tira! Nem com as eleições nem com a dita democracia, ninguém nos tira!
Ora, quem fala assim não é gago. Nem tem papas na língua.
É a mesma franqueza com que nos brindou a respeito da ligação entre a luta armada no passado e a riqueza no presente.
É o que vale haver gente que não anda aqui para enganar ninguém.
O bom do general só não nos revelou de que forma pensa manter o poder no caso de, de facto, as eleições e a democracia ditarem a vitória de um dos outros dois candidatos.
Será que o leitor quer fazer um prognóstico?
PS – Recebi do Sr. João Carlos Cruz uma carta em que critica as posições que tenho tomado nas minhas crónicas mais recentes.
Carta correcta e bem documentada (nomeadamente sobre a situação na Beira) que muito lhe agradeço.
Na verdade eu baseio-me, para as minhas crónicas, na informação que recebo de uma grande variedade de fontes, umas mais credíveis e outras menos, de acordo com critérios que fui definindo ao longo dos anos.
Apesar disso, admito perfeitamente que possa fazer juízos de valor errados e até mesmo injustos.
Mais uma vez muito obrigado.
SAVANA – 16.10.2009
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