O secretário executivo da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), Tomaz Salomão, alerta para o perigo de se propagarem em África confrontos idênticos aos de Moçambique, em setembro passado.
Em entrevista à Agência Lusa, Tomaz Salomão, um moçambicano num lugar de topo da organização que junta 15 países da África Austral, diz que os confrontos foram resultado dos efeitos da crise internacional, "em que o aperto na vida das pessoas é tão grande que as pessoas sufocam".
No início de setembro, milhares de pessoas protestaram em Maputo contra o aumento do custo de vida e os confrontos com a polícia provocaram pelo menos 18 mortos e centenas de feridos.
"Alguns países têm capacidade para aguentar (a crise), outros não. Moçambique não tem essa capacidade de reservas internacionais, se o rand se fortalece na África do Sul acabamos por sofrer por tabela, dadas as nossas fraquezas como país", afirma.
Segundo o responsável, o que aconteceu em Moçambique começa hoje a afetar outros países, sendo que o que se passou na Tunísia, que descambou para a componente política, começou por ser um fenómeno "acima de tudo de acesso ao pão".
Da mesma maneira as manifestações que estão a decorrer o Egito, sustenta, têm como problema principal a falta de emprego
"Na realidade o fenómeno vai propagar-se e vão resistir os países que têm arcaboiço de aguentar, nos que não têm não fiquemos surpreendidos de ver repetições de fenómenos idênticos aos que aconteceram em Moçambique", alerta
E acrescenta: "Não estou a dizer que as coisas (em Moçambique) não podiam ser geridas de melhor maneira, até podiam, o que estou a dizer é que estou a reconhecer que nós não temos arcaboiço para sozinhos enfrentarmos os efeitos decorrentes da crise financeira internacional".
Tomaz Salomão admite também que a gestão dos dias seguintes aos confrontos podia ter sido melhor mas frisa que o mal já estava feito.
Ainda em relação ao seu país de origem, Tomaz Salomão alerta para outro problema: o facto de Maputo estar a ser utilizado como "plataforma giratória para a droga".
"Tenho a noção de que passa por aqui muita droga. E isso não foi detetado apenas pelas autoridades moçambicanas, temos troca de informações ao nível da região e este ponto (Maputo) e Joanesburgo estão identificados como pontos que estão a ser utilizados como plataformas giratórias para a droga, e as origens são o Brasil e o extremo oriente", garante.
Em junho passado as autoridades norte-americanas identificaram na lista dos narcotraficantes Mohamed Bachir Suleman, um empresário moçambicano conhecido também por ser próximo do Presidente da República, Armando Guebuza, e do partido no governo, FRELIMO.
Tomaz Salomão não comenta mas diz que "a droga que passa por Moçambique tem alguma origem" e que se os Estados Unidos querem ajudar o país "é preciso ajudar a ir às origens do problema e neutralizar o processo a partir das origens".
"Porque nós, com as nossas fraquezas institucionais, estamos a ser utilizados como uma plataforma giratória, logicamente há de haver indivíduos, nacionais ou estrangeiros, que hão de querer tirar benefícios disso", justifica.
FP.
Lusa – 06.02.2011
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