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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

GWAZA MUTHINI: Farra e negócio de ukanyi!

MUITO poucos conhecem o real significado do Gwaza Muthini. Sobretudo os jovens. Mas também parece que isso não lhes interessa muito. Porque hoje por hoje, o Gwaza Muthini é apenas uma simbologia. É sinónimo de farra e de consumo de ukanyi, que será preparado na véspera para que esteja disponível em quantidades suficientes para todo o mundo e depois transportado em bilhas e bidões, distribuído em todos os cantos da vila de Marracuene, sobretudo na entrada na estrada principal que vai dar à vila e ainda na zona do Quadrado de Marracuene.
Maputo, Quarta-Feira, 9 de Fevereiro de 2011:: Notícias
E o ukanyi vai tomar conta da maioria das pessoas que estarão em Marracuene com o pretexto de assistir à cerimónia do Gwaza Muthini, pois encontrar-se em Marracuene no dia 2 de Fevereiro e não beber ukanyi não difere de chegar ao México e não provar tequila ou ir à Roma e regressar sem ver Papa.
Vende-se o ukanyi ao preço de 25/30 meticais o livro. E consome-se a potes. Alguns até o misturam com outros destilados, que vão da perigosa “tentação” à cerveja preta, só para dele apurar um outro nível de reacção etílica.
Em carrinhas, os comerciantes – com maior destaque para as senhoras – saem da capital do país e vão à vila de Marracuene onde montam barraquinhas de ocasião para colocar à disponibilidade tudo o que será necessário para a “grande festa do Gwaza Muthini”, pois para lá acorre gente vinda de todos os locais da cidade e província de Maputo e até de Gaza.
As espetadas e outros assados e ainda os panelões de comida estão sempre a fumigar para a refeição ser servida quente e poder aguentar a noite.
E porque o negócio é negócio, até deu para produzirem e venderem camisetes estampadas com a imagem do mestre Malangatana, a 250 meticais.
O ambiente de negócio que se vive vai-nos recordar as noites de grandes espectáculos na Praça da Independência, onde vende-se de tudo um pouco.
No entanto, o ritmo em que se faz negócios e se bebe tudo, sobretudo o ukanyi, fosse acompanhado de mínimos conhecimentos sobre as razões que ditaram a existência do Gwaza Muthini, que se assinala àquela data, seria perfeito.
Só que não é isso que acontece, pois vejamos: à mínima curiosidade e aleatoriamente procuramos saber de um jovem o significado do Gwaza Muthini, ao que nos respondeu ser nome de um ancião que viveu nas margens do rio Incomati e que tinha grandes porções de terra. “Foi um régulo muito influente no tempo colonial”, disparou, disparatadamente o jovem e retirou-se de seguida do local onde estávamos.
Outro jovem, de nome Baptista Vicente, bailarino de um grupo musical local, disse, de forma arrogante, que isso não lhe interessava, pois ali simplesmente estava para tocar e beber ukanyi.
Miranda Valente Matlombe, de 43 anos de idade, diz não ter muitos detalhes sobre o assunto, sabendo, no entanto, que há 116 anos travou-se uma grande batalha entre guerrilheiros moçambicanos e os colonos portugueses. O que mais o anima é a romaria que anualmente se realiza à Marracuene para a evocação dos heróis dessa batalha e a bebedeira de ukanyi que depois apanha.
Residente de Marracuene, Miranda Matlombe conseguiu assistir, às primeiras horas, a cerimónia de evocação e exaltação dos espíritos dos guerreiros, vulgo “kupalha”. E à tarde já estava a participar na farra, que se prolonga por todo o dia 3 de Fevereiro, feriado que assinala os Heróis Nacionais.
Aos 67 anos, Makeze recorda que no passado era proibida a venda do ukanyi. E até hoje diz-se, no discurso oficial, que ainda é proibida a venda.
“Nada era como dantes”, diz, lamentando, o velho Makeze, salientando que, “Nós sabíamos que o ukanyi furava-se e era trazido aqui para ser consumido, de borla, por todos. E não bebiam crianças, como hoje acontece. É a democracia. E todos os valores morais e culturais estão pervertidos”.
Outros há que associam a cerimónia do Gwaza Muthini com aquela bebida que carrega uma história secular, porque também tida como um terrível afrodisíaco.

CELEBRAR OUTRAS BATALHAS

Maputo, Quarta-Feira, 9 de Fevereiro de 2011:: Notícias
Encontramos Lourenço Vilanculos, director provincial de Trabalho em Tete, no recinto do Quadrado de Marracuene. De férias e em Maputo, ele saiu com a família para assistir à cerimónia do Gwaza Muthini, tendo como perspectiva cultivar e perpetuar o gosto pelo conhecimento da História de Moçambique nos seus filhos.
Do que viu, ele diz que o evento parece estar melhor organizado agora, pois a disposição dos vendedores já está alinhada e as barracas construídas vão ao encontro disso. Com um palco para os músicos evoluírem.
No entanto, uma das suas maiores preocupações é com a preservação do legado histórico do Gwaza Muthini, que é um património dos moçambicanos.
“Estamos a receber folhetos sobre Sida, que são importantes, mas devíamos também receber folhetos desdobráveis que falam sobre a história do Gwaza Muthini, como forma de promover o conhecimento”, refere.
Muitos pensam que o Gwaza Muthini se esgota somente na bebedeira do ukanyi, mas este esforço de organização e de perpetuar a celebração deve ser acompanhado da questão de educação.
“Nós temos que valorizar a nossa história, conhecê-la. E para isso é preciso um grande esforço. A preservação implica muitos custos, por vezes até financeiros, por vezes elevados. Mas é preciso investir nisso”, diz Lourenço Vilanculos.
Diz ainda que não se deve celebrar somente esta batalha heróica. Há que recordar e celebrar outras batalhas que se realizaram ao longo deste país e serem celebradas.
  • Francisco Manjate

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