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VOA News: África

quinta-feira, 24 de março de 2011

Coalizão fracassa em definir liderança de ação na Líbia

Embaixadores da Otan continuarão na quinta-feira discussões sobre quem vai liderar operação contra o regime de Kadafi

Os 28 países que integram a Organização do Atlântico Norte (Otan) não chegaram a um acordo nesta quarta-feira sobre quem vai liderar a operação contra o regime do líder da Líbia, Muamar Kadafi.

Bispos angolanos preocupados com momento actual no país

Os bispos sublinham o "alvoroço que se regista em Angola" e consideram a agitação como indícios suficientes para alertar a vigilância de quem de direito.
Pretória (Canalmoz) - Os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, CEAST, estão preocupados com o momento actual no país, refere Agostinho Gayeta num despacho para a Voz da América (VOA).
Numa nota pastoral da CEAST tornada pública ontem no final da primeira assembleia-geral anual dos bispos, estes sublinharam com preocupação o "alvoroço que se regista em Angola", reporta o referido jornalista na VOA.

terça-feira, 22 de março de 2011

Ex-ministro Interior Almerino Manhenje condenado a dois anos prisão

O ex-ministro do Interior, Almerino Manhenje, foi condenado esta terça-feira a dois anos de prisão pelos crimes de abuso de funções, violação da legalidade orçamental e pagamentos indevidos.
A sentença foi preferida no tribunal judicial de Maputo, cerca das 13h15, e condenou na mesma pena e pelos mesmos crimes os dois outros réus: Rosário Carlos Fidelis e Álvaro de Carvalho, ex-quadros superiores do Ministério do Interior.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Angola: No interior há medo de nova guerra

Mensagem acusa UNITA de preparar regresso á guerra. UNITA nega acusação

A manifestação marcada para 7 de Março, em Luanda, instalou um clima de medo e mesmo pânico nas províncias do interior, nomeadamente, Benguela e Huambo onde correm rumores do retorno à guerra civil.
Uma mensagem que está ser difundida por telefones celulares acusa o maior partido na oposição UNITA de estar a se organizar para o retorno a guerra civil e apela ao assassinato do deputado e secretário-geral do Galo Negro, Ablio Kamalata Numa por ser o mentor do plano.

Num comunicado de imprensa o Bloco Democrático diz que em reunião de emergência, convocada pelo partido no poder, os presentes terão sido instruídos no sentido de criarem “grupos de contenção dos manifestantes” e ter-lhes-ão sido entregues “máscaras de gás lacrimogéneo e orientados para se infiltrarem no seio da manifestação de 7 de Março, caso haja, e criarem tumultos”.
Seriam, igualmente, segundo a fonte, infiltrados membros dos Serviços de Inteligência, a paisana, “para instalar o terror contra os manifestantes indefesos.” Em relação a essa denúncia não existem reacções da parte do MPLA.
O secretário daquela força política no Huambo, Liberty Chiaca denunciara, recentemente, a existência dum programa que visa a eliminação física de alguns dirigentes do seu partido.
Ontem o partido no poder, o MPLA, organizou uma manifestação pró governamental em Luanda e em várias outras capitais provinciais.
Jornalistas em Luanda disseram que cerca de meio milhão de pessoas participou na marcha. Uma entidade governamental disse que um milhão aderiram á manifestação de apoio ao governo na capital.
Nos últimos dias as províncias de Benguela e Huambo têm sido ocupados por polícias anti-motim e militares.
Devido ás crescentes tensões em algumas comunidades como Bailundo e Balombo, há relatos que populares começaram a armazenar alimentos e sal com medo do reinício do conflito.
Entretanto, a oposição apela a calma a população, afirmando que o governo é quem possui arsenal bélico.
Contudo em cada conversa de bar, táxi e esquina as pessoas questionam-se sobre o que será das suas vida no dia 7 de Março e após aquela data.

VOA – 06.03.2011

Os falsaportes

Mia Couto

O argumento da raça ou da tribo é um expediente fácil de usar, não precisa de manual de instruções e pode ter efeitos espectaculares. Em vez de se debater ideias, abate-se o outro. A manipulação deste tipo de fantasmas pode maltratar qualquer veleidade crítica em Moçambique...

Existem os passaportes. Mas existem os falsaportes. Há muito que se alertou que, no nosso caso, uns podem ser os outros. A reacção de quem devia escutar foi típica: defensiva, crispada, corporativa. Na nossa casa comum, para se ser escutado não basta falar. É preciso gritar. Quem acaba gritando (somos um povo pacífico, não é?) não são as pessoas. É a própria realidade. Aquilo que é impedido de florescer no momento próprio acaba sempre explodindo mais tarde.

Venho falar hoje de um interessante mecanismo de defesa tornado norma em Moçambique. É um truque, um malabarismo de retórica, um falsaporte para o diálogo de surdos. Para entender como funciona, podemos imaginar o seguinte cenário: um vizinho chama-me a atenção que posso ter ratos no meu quintal. Ele viu uns tantos a escapar do meu pátio. Em lugar de procurar investigar, eu desato a atacar verbalmente o vizinho. E acuso-o disto e daquilo. Chamo-o, por exemplo, de tribalista, regionalista e racista. Se os ratos fossem desses que se vendem nas lojas da Europa, todos gordos e branquinhos, o vizinho não teria falado. Mas como são ratos africanos, então, já há problemas. E já agora, inspirado no mais recente discurso de Kadafi, invocaria a condição de “ratos” com que ele brindou o seu povo e as ameaças de desratização que generosamente prometeu para “normalizar” a Líbia. O vizinho cala-se e o assunto morre. Mas os ratos não deixaram, por isso, de existir.

O caso do rato e do vizinho ilustra o processo de falsear o diálogo e de substituir a agitação de fantasmas pela análise da realidade. A primeira vez que escrevi sobre corrupção em Moçambique, um alto dirigente da nação respondeu, na revista Tempo, clamando que em Moçambique não havia corrupção. O seu “raciocínio” tinha por base o seguinte: o meu argumento era racista. Sendo eu de raça branca não suportava ver negros enriquecendo. E ponto final, colocava-se uma pedra sobre o assunto.

No meu artigo, porém, não se falava de raças, mas de fenómenos sociais que se situam acima, bem para além da falsa divisória das raças. Pouco importa, para o caso. A verdade é que algum tempo depois, pela força da evidência, o assunto da corrupção inscrevia-se, pelo menos formalmente, na preocupação do governo. Um gabinete de combate à corrupção foi mesmo criado. Poderia ter sido diferente se tivéssemos seguido o conselho de Samora Machel (estamos no ano dele) de matar o crocodilo enquanto estiver no ovo. A nossa arte parece ter-se tornado inversa: dá-se caça (?) à crocodilagem, quando ela já vai engordando no rio, quando temos medo de sermos vítimas dos seus dentes.

Há poucos dias, para rebater afirmações de Marcelino dos Santos, alguns dos seus colegas de partido, ao mais alto nível, vieram a público invocar o mesmo argumento da raça. Se Marcelino dos Santos vislumbra indícios de enriquecimento fácil entre quadros do seu partido é porque ele se aflige em ver “negros ricos”. Esta foi a lógica esgrimida. Estranho que se acuse agora de deslize de “racismo” alguém com as credenciais históricas de um dos fundadores da Frente de Libertação de Moçambique.

O expediente de racializar o debate pode muito bem generalizar-se. Alguém critica a forma desleixada como os “chapistas” conduzem? A resposta dos condutores pode bem ser seguinte: criticam-nos apenas porque somos negros, alguém está a criticar a condução de outras raças? Imaginemos que alguém alerta para o crime da madeira (e do marfim) que sai pelos portos do Norte do país. Em lugar da investigação com resultados públicos e transparentes, deixamo-nos embalar pela vozearia de quem acha que essas acusações são de gente do Sul, que tem inveja do desenvolvimento de do Norte.

Em suma: o argumento da raça ou da tribo é um expediente fácil de usar, não precisa de manual de instruções e pode ter efeitos espectaculares. Em vez de se debater ideias, abate-se o outro. A manipulação deste tipo de fantasmas pode maltratar qualquer veleidade crítica em Moçambique. Uma sociedade sem critica é a nova modalidade do fascismo. É verdade que a democracia se mede pelo número de gente que vota e pelo modo legítimo e ordeiro com que decorrem as eleições. Mas a democracia mede-se, sobretudo, pela qualidade de pessoas que sabem, de forma positiva, questionar a política e a sociedade.

A nossa liberdade corre o seguinte risco: podemos falar de tudo, desde que não se fale de nada importante. Em lugar de um passaporte para o futuro, teremos, de novo, um falsaporte.

O PAÍS – 26.03.2011

Angola24Horas

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