É que as coisas estão cada dia a ficar piores, meu bom amigo.

MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá amigo Júlio
Como vai essa saúde? E a tua família, como está?
Nós estamos todos bem, felizmente.
Estou-te a escrever na continuação de tantas conversas que temos tido sobre este problema da criminalidade.
É que as coisas estão cada dia a ficar piores, meu bom amigo. Ao contrário do que nos dizem as autoridades, a situação piora visivelmente de dia para dia.
A semana passada foram assassinados dois polícias. Esta semana já foram três. Onde vamos parar?
E o que me parece mais grave é que, desta vez, não foi aquele assassinato para roubar as armas das vítimas. Desta vez a coisa parece muito mais grave.
Se eu bem percebi o que li nos jornais, os três homens eram agentes da Policia de Investigação Criminal e tinham saído, à paisana e num carro sem identificação policial, para uma qualquer missão. E, ali na Avenida de Angola, foram baleados até à morte.
Ora isto tem significados muito concretos:
. Os assassinos sabiam quem eles eram, apesar de não estarem fardados;
. Os assassinos sabiam que viatura eles iam utilizar;
. Os assassinos sabiam para onde eles iam e por onde eles iam;
. Muito provavelmente os assassinos sabiam o que eles iam fazer.
E todo este conhecimento só pode ter como origem: a própria PIC. Ninguém mais teria a possibilidade de ter todo aquele conhecimento sobre a missão dos três agentes.
Parece não restarem dúvidas, perante este caso, que alguém de dentro da instituição policial entregou os seus próprios colegas às mãos dos assassinos.
E isto leva-nos a pensar, mais uma vez, que o estado a que a criminalidade chegou entre nós é o fruto dos muitos anos de total desgoverno do Ministério do Interior, nas mãos de Almerindo Manhenge.
Foi ao longo desses anos que a infiltração das forças policiais cresceu até se transformar no monstro a que hoje assistimos.
A impunidade de criminosos protegidos do Poder e a promiscuidade entre o crime organizado, a elite politico-económica e o Aparelho de Estado deixaram de poder ser controladas.
Dizia, há dias, o Elisio Macamo, num artigo publicado no Notícias, que o governo de Armando Guebuza fez um bom diagnóstico sobre os problemas principais do país, mas não foi capaz de partir desse diagnóstico para encontrar solução para esses problemas.
Estou, no essencial, de acordo com esta análise do Macamo.
Para mim, o problema agora é que os instrumentos que o Estado deveria ter para encontrar e aplicar as
soluções já estão, de uma forma geral, tomados.
Se não totalmente, pelo menos a um nível que já lhes permite evitar e sabotar as acções dos sectores
ainda não corrompidos.
Solução para isto? Não estou a ver, meu caro Júlio.
O cancro está já muito espalhado. Para o travar teria que ser usada cirurgia de grande envergadura e tenho
medo que uma coisa assim radical só viesse piorar ainda mais a situação, dada a nossa notória falta de
alternativas.
Há anos que venho pressionando para que a parte honesta da FRELIMO se afaste, clara e abertamente,
da actual liderança, de forma a poder constituir um núcleo, à volta do qual se forme uma terceira força
responsável.
Mas a verdade é que, como dizia há pouco tempo um amigo, a FRELIMO é mais do que um partido, é uma sociedade secreta, uma seita. E as ligações que unem os seus membros não lhes permitem esse distanciamento. Acabam sempre por prevalecer o silêncio cúmplice, os sorrisos e os abraços.
Quais vão ser as consequências? Não sei. Não sou bruxo para adivinhar o futuro.
Mas sou já suficientemente velho para ter assistido a muita coisa, por esse mundo fora, ao longo da vida.
E a sensação que tenho, cada dia mais forte, é que as consequências não vão ser nada boas.
Oxalá me engane.
Um abraço para ti, do
Machado da Graça
Fonte:CORREIO DA MANHÃ

M I R A D O U R O - bloge noticioso-MMVII

---

Park yourself in front of a world of choices in alternative vehicles.
Visit the Yahoo! Auto Green Center.