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VOA News: África

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Cosa nostra

Ele é membro médio da FIR: Força de Intervenção Rápida.
É muito rebelde, na força da sua juventude, que acredita - como acontece muitas vezes - na palavra honestidade.
É meu sobrinho.
Na manhã de segunda-feira, 23JUL07, ele chegou-me à porta e disse: “tio, posso falar?”
“Depende.”
“O tio é jornalista. E sei que não tem medo. Estou muito fudido. Quero que você escreva. Mas…”
Pausa.
“Mas o quê, sobrinho?”
“Não gostaria que o meu nome fosse escrito.”
“Crise nenhuma, sobrinho. A lei protege-te. Tens direito a anonimato.”
“É assim, tio:
Na noite de sábado, por volta das sete da tarde, estava já escuro, eu estava à espera de um amigo, com o carro estacionado em frente ao Hospital Geral do Chamanculo, na avenida do Trabalho.
Do lado oposto, estava estacionado um camião Mitsubichi, de matrícula MMN 49 09, com as luzes a sinalizar emergência.
Normal.
Logo depois estacionou, atrás de mim, um Pajero desses super modernos, com matrícula estranha: AK 32 22.
Levantei as antenas do meu sentido como polícia e esqueci-me do resto.
Do Pajero desceu um gajo que conheço bem, visto que tem processo na Polícia do Bagamoyo e é useiro na terminal da Junta.
É um daqueles que, na Junta, o povo chama de Magay-Gay.
Aqueles que levam o rebanho ao autocarro e destino pretendidos.
Como é que este fulano desce de um Pajero destes, a esta hora?
Mas ele desceu.
Estava de camiseta sem mangas, atravessou a rua e foi como que cheirar o camião, cheirou várias vezes, voltou ao Pajero, entrou e arrancou.
Liguei para os meus colegas de serviço e contei o que se estava a passar. O camião arrancou e eu segui-o, enquanto ia dando conta da situação aos meus colegas em serviço - o camião estacionou nas bombas do Jardim.
O Pajero apareceu logo depois. Breve troca de palavras e o Pajero, com o Magay-Gay, avançou. Apareceram os meus colegas.
Documentação: os dois ocupantes do camião exibiram uns recibos esfarrapados: são fardos, disseram.
Sem origem definida, sem destino definido, sem proprietário definido, nada.
Um dizia que o destino era Tete. O outro. Não não: Manica. Ou melhor Lichinga.
Ok, disse o chefe da brigada: vamos ao comando desmontar o camião. Era sábado., 20h00!!
Marcha lenta, ao longo da avenida de Moçambique, a da OUA, com apelos de luz do Pajero para a PRM parar.
Sem efeito.
Vamos ao comando, desmontar a tenda do camião.
No Comando Geral da Polícia, ali na avenida Ho Chi Min, a comitiva foi recebida pelo adjunto do superintendente da PRM, de nome Simbine, que sentenciou: não se desmonta nada. Primeiro porque já é tarde. Segundo porque é sábado. Terceiro porque uma parte da mercadoria que segue aí dentro do camião pertence-me. Portanto…”
Respirei fundo:
“E então, sobrinho, a que conclusão é que chegamos?”
“O tio lembra-se daquele meu vizinho que de maltrapilho passou a ricaço?”
“Claro.”
“Sabe como é que ele ficou rico?”
“Nem ideia.”
“Foi assim: ele tinha um quiosque no Zimpeto: um pouco antes do último mundial de futebol foi ao Tiger Vídeo Center comprar um ecrã gigante. Mas, na altura da montagem, não funcionou. Como ele tem formação em electrotecnia, desmontou o aparelho. Lá dentro tinha quatro pacotes de heroína pura: um balúrdio de taco.
Tinha três hipóteses: ou ia entregar a mercadoria à Polícia, ou vendia por mão própria ou devolvia-a ao dono.
Devolveu ao dono, a troco de silêncio e muito dinheiro.”
Pausa.
“O que é que o tio acha que aquele tinha? Fardos?”
“Sobrinho: onde se metem generais, não se metem jornalistas.”

Fonte: SAVANA

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