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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Sobre as suspeitas de corrupção no Moçambola

No caso do futebol moçambicano, de há alguns anos para cá que se nota, claramente, que vive acima das suas capacidades. Mais exactamente, desde a entrada em cena dos dois clubes muçulmanos – Liga e Atlético – que o futebol moçambicano transparece uma imagem burguesa, que não condiz com a sua verdadeira realidade.
Esta semana, o país foi sacudido com estridentes notícias de que os resultados do recém-terminado Campeonato Nacional de Futebol, vulgo Moçambola, e eventualmente de muitos outros anteriormente, podem ter sido previamente combinados e que, por isso mesmo, não reinou neles a verdade desportiva, que sempre se deseja numa partida de futebol.

Na verdade, há muito que se acumulavam as suspeitas, as acusações, as insinuações, as denúncias concretas ou gerais, mas nada parecia acontecer no nosso futebol. Em 1991, no caso mais mediático, Ferroviário de Maputo e Costa do Sol chegaram à última jornada em igualdade pontual e golearam, inusitadamente, Clube de Gaza e Chingale de Tete por 7-0 e 12-0. Apesar da evidência de que faltara a verdade desportiva, nunca houve uma investigação propriamente séria ao caso e o Conselho de Disciplina da Federação de Futebol limitou- se, na altura, a anular a última jornada do campeonato. Assim mesmo, sem corruptores nem corruptos, o assunto foi placidamente enterrado, a bem de todos, e nem Ferroviário de Maputo nem Costa do Sol, de um lado, nem Clube de Gaza nem Chingale, do outro, reclamaram do que quer que fosse, sinal claro de que nenhum dos quatro clubes tinha as mãos limpas no assunto, como sói dizer-se.
Os protagonistas do desporto sempre pareciam um mundo à parte da nossa realidade e sempre que se pedia uma acção mais concreta, se encalhava no habitual: falta de provas. Como se as provas, por si, pudessem vir ao encontro de quem deseja a verdade. Tudo começa, pois, com indícios, e agora têmo-los bastantes.
Desta vez, no entanto, a estridência das acusações de Salvado e o facto de o Conselho de Disciplina da Liga Moçambicana de Futebol ter decidido enviar o caso à alçada do Gabinete Central de Combate à Corrupção parece indiciar que esse mundo à parte acabou para o futebol. Nenhum sector da vida pública - e o futebol, gostemos ou não, ocupa um lugar único no espaço público - pode sobreviver à multiplicação das suspeições, algumas delas alimentadas por parte dos seus mais altos responsáveis, como as que se acumularam ao longo dos últimos anos.
Por isso, agora tudo tem de ser diferente. Em nome da credibilização do nosso futebol, as acusações de Arnaldo Salvado têm de ser levadas até às últimas consequências e não se permitir que um punhado de gente manipule resultados e engane os moçambicanos que, com fé e muitas dificuldades, continuam a fazer poupanças para no fim-de-semana pagar o seu bilhete e ir assistir a representações teatrais. Para isso, existe o Gungu e o Mutumbela Gogo.
As cartas de Arnaldo Salvado trazem consigo acusações demasiado sérias para não serem levadas em conta e colocam-nos perante o maior escândalo de corrupção no futebol moçambicano. Pelo menos, ao nível das acusações de tráfico de influências e coação das equipas de arbitragem.
Parecer não é ser, como se diz. Mas, por vezes, é. No caso do futebol moçambicano, de há alguns anos para cá que se nota, claramente, que vive acima das suas capacidades. Mais exactamente, desde a entrada em cena dos dois clubes muçulmanos – Liga e Atlético – que o futebol moçambicano transparece uma imagem burguesa, que não condiz com a sua verdadeira realidade. Treinadores e alguns jogadores ganham pequenas fortunas, que não encontram sustentação na actual realidade do nosso desporto. Porque, entretanto, pouca gente vai ao futebol e o bilhete custa a miserável quantia de 50 meticais. O que quer dizer que, muitas vezes, na maioria dos jogos, a receita de um jogo não dá para pagar o ordenado mensal de um único jogador. De onde vem, então, o dinheiro com que, ostensivamente, alguns clubes aliciam jogadores, no nosso futebol?
Sem darmos por isso, o nosso futebol pode estar a transformar-se num campo fértil para a máfia, lavagem de dinheiro e outras coisas mais pouco abonatórias. Por isso, a investigação às acusações de Salvado, mais do que uma caça às bruxas, tem de ser uma oportunidade soberana para conhecermos as verdadeiras linhas com que se cose o nosso futebol, para tirar as dúvidas que, entretanto, pairam nas mentes de muitos adeptos deste desporto.
É importante, pois, que as gentes da Justiça, tão pouco dadas a urgências, tenham a noção clara de que, no caso em apreço, há que investigar quão rapidamente quanto possível.
PS
Esta semana, iniciou, finalmente, o processo de entrega à Frelimo das sedes de 15 bairros da cidade da Beira, em cumprimento de sentença do Tribunal Judicial da Província de Sofala. Ao contrário do que sucedera há alguns meses, desta vez o processo correu sem mácula: Daviz Simango não mobilizou escudos para se opor à decisão judicial e, por isso, o enorme aparato das Forças de Lei e Ordem, mobilizado para garantir a execução da sentença, não teve necessidade de se mostrar. Louve-se esta atitude sensata de Daviz. As decisões dos tribunais, por mais absurdas e injustas que nos pareçam, são para cumprir por todos, sem exclusão, e seria um tremendo mau exemplo um político que almeja dirigir o país recusar a execução de uma ordem judicial. Fez bem, por isso, Daviz Simango, ao abandonar o fervor da paixão e a sensação de injustiça, que lhe vai na alma, e deixar a sensatez da razão falar mais alto. O Estado de Direito é saber aceitar as regras de convivência social, mesmo sem concordarmos com elas.

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