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VOA News: África

terça-feira, 30 de novembro de 2010

País de bypass

Tomás Vieira Mário

A expressão Inglesa bypass entrou no vocabulário nacional a uma velocidade meteórica, fazendo, de forma fulgurante, manchetes nos jornais e abrindo serviços noticiosos de rádios e televisões, sendo aí mesmo, o centro de acesos debates. Como um raio, ela fulminou, em tempo recorde, reputadíssimos laboratórios da sapiência nacional, penetrou gabinetes de ministros da República, sacudiu salas de conferências e auditórios, caiu nas mesas de meritíssimos juízes, pousando, por fim, nas bancadas dos legisladores da Pátria Amada!

Pelo correio da MOZAL, aqui mesmo, no pescoço da capital da nação, esta palavra chegou de forma sorrateira, porém vigorosa, criando, de imediato, grande impacto político, social e económico junto da sociedade moçambicana: não fossem largos os interesses económicos desfilando em seu redor!

A essa velocidade, esta expressão Inglesa não pode, certamente, ter usado os canais normais que qualquer palavra nova usa, para se disseminar junto do povo, até se impor junto de tão altas instâncias do poder de estado! Para alcançar esta vitória tão retumbante, em tão escasso espaço de tempo, esta palavra só pode ter feito uma coisa: um bypass!

Mas, então, bypass é mesmo o quê?

Os dicionários, como é da sua natureza, no lugar de dar explicações directas e simples, dão-nos, sobre a palavra consultada, uma outra, por sua vez ainda mais complicada de entender. Depois de muita consulta, dei-me por satisfeito, ao achar, em vez de um significado, uma explicação, mais contextualizada, desta expressão.

Diz, então, o seguinte, este dicionário: bypass é uma expressão bem antiga, mesmo entre nós moçambicanos: ela apenas parece nova porque, os moçambicanos, mais do que pronunciá-la no seu dia-a-dia, eles implementam-na, na vida social, política, comercial, etc. Nas guerras, realidade que é, infelizmente, muito familiar aos moçambicanos, o bypass é a palavra que resume todas as decisões estratégicas.

Quando estamos em guerra, nós deste lado, e o inimigo daquele outro, o que nos separa é também o que nos une: ambos almejamos atravessar a linha divisória, a linha quente de fogo, para ir escorraçar o outro, do lado de lá. Sucede porém que, nas vias de acesso oficiais ou normais, como estradas e pontes, a guarnição inimiga é sempre mais reforçada e tenazmente protegida. É então que os generais procuram descobrir vias alternativas; formas de “furar” e penetrar no bastião do inimigo.

E vai daí que enviem grupos de reconhecimento, altamente treinados, que vão inspeccionar todas as vias possíveis — e impossíveis! – incluindo túneis há muito fechados e abandonados; grutas habitadas por répteis fedorentos e peganhentos; rios tomados de assalto por crocodilos assassinos; picadas usadas no escuro da noite por criminosos trânsfugas e perigosos traficantes de bens e de pessoas. Tudo para encontrar uma linha de fuga, que permita surpreender o inimigo, para o apunhalar pelas costas! E o dicionario, muito prestativo, conclui a explicação, rematando: Quando finalmente os grupos de reconhecimento encontram tal via, então comunicam ao general: “Meu General, está encontrado o bypass”!

Esta explicação deixou-me tão deslumbrado, que a lancei logo na Internet, incitando os meus amigos da rede a comenta-la. E, com efeito, os comentários não tardaram.

Um dos membros da rede comentou o seguinte: No fim desta leitura, fiquei com a sensação de que, todo este palavroso rendilhado, não passa de uma tentativa de encontrar explicações politicamente correctas, pudicas, de uma expressão que, cá entre nós, significaria, simplesmente, via ilegal, via proibida pela lei e pelos bons costumes; a via pela qual nenhum bom pai de família iria seguir.

Um outro membro da rede escreveu o seguinte: Meus amigos, sejamos directos e claros: para mim ficou claro que bypass significa, simplesmente, saída pelo esgoto!

Ainda um outro membro da rede escreveu : Bom... para mim, a tradução não seria saída pelo esgoto: pelo contrário, seria deixar sair o conteúdo do próprio esgoto pela rua fora, entrando em nossas casas, nossas escolas, nossos escritórios...Assim como quem abre as fossas...

Os comentários sucederam-se, uns secundando os primeiros, e outros trazendo novas visões. Destes, chamou a minha particular atenção aquele que, já em jeito de resumo, quis demonstrar que, no fundo, a expressão bypass, embora pouco pronunciada pelos moçambicanos, ela é parte do dia-a-dia de muitas pessoas e, até mesmo, de instituições, públicas e privadas. E dizia ele, a propósito:

Meus amigos, a verdade porém é que fazer bypass faz parte da “normalidade nacional”. Aliás, de certo modo, eu nunca percebi por que é que as organizações ambientalistas e os partidos da oposição se indignaram com esta decisão da MOZAL, a qual recebeu aval do nosso Governo. Afinal estamos num Pais de bypass! Vou dar alguns exemplos de como a nossa sociedade está tomada pelo bypass e, por conseguinte, por praticantes de bypass : os bypassitas. No país irmão que é o Brasil, o bypassista é o trambiqueiro; é o carcará sanguinolento. Vejamos como se manifesta o bypassista, cá entre nos:

Faz bypass o homem que sai de casa, numa tarde, anunciando que vai comprar o “Savana”, para regressar na manhã de um outro dia, com o jornal “Domingo”, e ainda exigir respeito `a sua mulher e filhos.

Faz bypass a mamã respeitosa que usa dinheiro – seu ou de seu marido- para aliciar jovens para os seus devaneios libidinosos e, ainda, apregoa fidelidade e respeito pelos bons costumes, aos jovens nubentes, de quem se oferece para madrinha de casamento, Domingo sim, Domingo não, na catedral da cidade.

Faz bypass o homem que se mascara em fervoroso seguidor do profeta Maomé, nunca faltando a uma única peregrinação a Meca, mas arruinando anualmente centenas de famílias e o futuro de milhões de jovens, como respeitoso traficante de drogas.

Faz bypass o homem que se esconde por dentro de uma batina de padre, para aliciar crentes ingénuas, e nunca assumindo a co-autoria das grávidas que semeia em cada Pascoa, e ainda prega a moral cristã e vai a Roma ver o Papa.

Faz bypass o homem ou a mulher que abandona um doente correndo perigo de vida no hospital público, e apressa-se para uma consulta comercial na clínica privada, de um paciente padecendo de enxaqueca, e ainda se considere médico.

Faz bypass o homem ou a mulher que investiga sobre práticas de corrupção e outros tipos de má conduta na administração pública, procura os autores de tais actos e cobra-lhes dinheiro, como condição para não publicar as falcatruas que descobriu, e ainda queira ser chamado jornalista.

Faz bypass o governante que é passageiro permanente de vôos internacionais, recebendo por isso prémios de “passageiro dourado”, e ainda se considere e receba o salário de Secretário Permanente de um Ministério.

Faz bypass o Director Nacional que monta serviços de consultoria privada no Gabinete do Estado, com as secretárias e secretários do Estado, os cafés, os motoristas, a energia eléctrica, a Internet e o Fax do Estado, e ainda queira aumentos salariais com correcção monetária e compensações da subida do custo de vida, em dólares americanos.

Faz bypass aquele que, a pretexto de acelerar a implementação de projectos com financiamento estrangeiro, do qual ele espera receber comissões, convoca um grupo de camponeses empobrecidos e desprevenidos, pergunta-lhes se não querem “trabalho” para si e para os filhos, e ante a inevitável resposta “sim, queremos”, decide sobre a sua remoção compulsiva das suas terras, alegando, amanhã, que houve consulta comunitária...

Faz bypass o homem que, após derrotas eleitorais sucessivas, abandona a família e a capital do Pais, aonde se encontra o Governo Central, as Embaixadas e a Assembleia da Republica, e decide acoitar-se numa província do Norte do Pais, mas querendo continuar a chamar-se líder da oposição e pai da democracia.

Faz bypass o cidadão que, eleito para a Assembleia da República, passa cinco a dez anos, sem nunca abrir a boca, e muito menos os olhos, nas plenárias, e ainda receba salário de deputado e com direito a reforma por inteiro.

O comentador terminava o seu texto, dizendo: amigos, com os exemplos que dei, espero que qualquer um de nós tenha ficado com uma ideia mais “moçambicana” do sentido da expressão bypass e possa identificar, em seu redor, os inúmeros bypassistas que o rodeiam, e para os quais o que importa é mesmo sair – ainda que seja pelo esgoto!

Contribuo, dizendo que concordo com o conceito bypass, em Moçambique e acrescento dizendo que è o mesmo nome complicado que se dá ao que os nossos ricos governantes e Presidentes da Repúblicas fazem, escolhendo certos indivíduos até mesmo os filhos e filhas para, em nome deles aparecerem como empresas que participam em grandes concursos públicos (ex: telefonia móvel), e possuindo um determinado valor de acções em cada uma das companhias concorrentes, para com a saída dos resultados, perder numa companhia e de uma ou de outra forma, ganhar junto com a que for vencedora. Resultado: Os nossos Grandes são sempre accionistas de todas as grandes empresas Moçambicanas, até mesmo estrangeiras!! De onde vem tanto Dinheiro meu Deus??!!! Certamente, vem das comissões pagas, à título pessoal, por empresas como a MOZAL, em respostas a favores como o de hoje, autorização do bypass.

Tofo

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