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VOA News: África

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Governo num colete de forças

Preços em desgarrada

Por Raul Senda

Temores sobre a saúde da economia moçambicana estão a  espalhar  pessimismo na praça pública . O motivo não é para menos: o custo de vida deteriora-se a olhos vistos. A inflação anual está na casa dos dois dígitos, o preço de combustível disparou, o metical está em terreno movediço, as exportações estão em crise e os preços dos principais produtos básicos (que não produzimos) e os materiais de construção estão em alta. Mas o Governador do Banco Central, Ernesto Gove, aconselha calma e argumenta que estamos na ressaca da crise financeira internacional.

O executivo moçam­bica­no ainda não vê gravidade na situação e diz que tudo passa pelo aumento de produção. Mas alguns ana­listas ouvidos pelo SAVANA apontam uma manifesta incapacidade do Governo em mobilizar competências para imprimir mudanças profun­das na economia que está a entrar para uma crise sem precedentes. Esta semana o Governo anunciou que irá emitir obrigações de tesouro em 150 milhões de dólares para financiar o défice orça­mental. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial já autorizaram a operação.

Dados disponíveis indi­cam que o défice do sector público sofreu um agra­vamento em 2009, atingindo 5,1% do PIB, devido à adopção de uma política orçamental expansionista como forma de combater os efeitos da crise internacional e dinamizar a economia. Esta política traduziu-se no au­mento das despesas cor­rentes e de investimento (reforma salarial do sector público, eleições de Outubro, subsídios aos preços dos combustíveis, programa agrícola trienal de 333 mi­lhões de USD, entre outras). Cerca de 55% do orçamento de 2009 foi financiado pela ajuda internacional, sendo esta destinada aos sectores prioritários, nomeadamente a educação e a saúde. No quadro do programa fiscal a médio prazo (2009-2011), a ajuda externa deverá re­presentar 45% da receita pública em 2011, propondo-se o Governo a reforçar a receita fiscal pelo menos em 0,5% do PIB/ano, através do alargamento da base fiscal, da adopção de medidas que permitam uma maior eficiên­cia da cobrança de impostos e do aumento do inves­timento. No sector externo, Moçambique regis­tou um agravamento do défice cor­rente em 2009 (10,9% do PIB), reflectindo a degrada­ção da balança comercial. As projecções para 2010 apontavam para um aumento acentuado das exportações, em virtude da forte subida do preço do alumínio a nível interna­cional, o que permitiria um desagravamento do défice corrente, que manterá a mesma tendência em 2011, fruto do impacto do aumento das exportações de gás. Porém, o défice da balança comercial sofreu um agrava­mento de perto de USD200  milhões entre Fevereiro e Abril de 2010, face ao tri­mestre homólogo, com as exportações a aumentarem 18,4% e as importações, 12,9%. Os preços do gás e do açúcar não são enco­rajadores

Mercados

Contudo, nos diferentes mercados das principais cidades moçambicanas o pânico tomou conta dos vendedores e compradores. Nesta quarta-feira, o SAVANA escalou alguns mer­cados da cidade de Maputo e arredores onde constatou uma subida dos preços dos principais produtos básicos.

Os preços do arroz, fa­rinha de milho, óleo ali­mentar, detergentes, açúcar, gás, carvão e energia eléc­trica são os que mais preo­cupam, sobretudo quando para o caso concreto do arroz, farinha de milho e gás foi posta a possibilidade de o preço baixar face ao aumento de produção interna que o governo supostamente está a fomentar e apoiar.  

Américo Pedro, vendedor do mercado Janeth, explicou, quando abordado pela nossa reportagem, que os preços estão sempre em constantes subidas.

"É uma situação que depende dos armazenistas que, por seu turno, são comandados pelo mercado internacional".

Soubemos deste que, a alteração dos preços é diária, visto que os fornecedores também actualizam os custos diariamente.

Exemplificando, Américo referiu que da terça para quarta-feira desta semana, um saco de farinha de milho de 12.5 quilos passou de 260 para 275 meticais.

Porém, mesmo com este cenário, garantiu-nos que a procura destes produtos continua, por serem a prin­cipal base de alimentação da maioria da população.

 "As pessoas compram, mas devo confessar que houve tempos em que o negócio era lucrativo. Hoje as coisas são caras e a margem de lucro é pequena", disse para depois acres­centar que a única razão que lhe faz levar o seu negócio avante é apenas por medo de ficar sem fazer nada.

Para Atália Combule, também vendedor do mer­cado Janeth, vender já não é assim tão rentável, porque os produtos são bastante caros.

Esta contou-nos que a justificação dos fornecedores é de que a constante des­valorização da moeda nacio­nal em relação ao rand sul-africano e ao dólar americano é que está na origem do encarecimento dos produtos. O dólar norte-americano é vendido a 38 meticais e o rand ultrapassou a barreira dos cinco meticais.

"Eles dizem que o metical não tem nenhum valor, todos dias o rand e o dólar estão a subir e estes, para com­prarem os seus produtos usam as duas moedas e vendem os mesmos em meticais. Na tentativa de ajuizar a compra e a venda acabam aumentado os pre­ços", disse Combule.

Avançou referindo que os grossistas dizem que os preços continuarão elevados uma vez que os produtos que comercializam são impor­tados. Sendo assim, eles não podem, por si só, baixar os preços. Tal depende do mercado internacional.

Carlos Sebastião é outro vendedor com que o SAVANA conversou. Este dedi­ca-se à venda de bebidas alcoólicas. Contou-nos que o cenário que se vive na venda de produtos alimen­tares é o mesmo nas bebidas.

Todas bebidas impor­tadas dos países vizinhos aumentaram os preços por­que, a moeda usada para a compra é o rand que neste momento está em alta.

Mais do que os comer­ciantes, os consumidores é que são mais lesados com a situação.

Todas pessoas que con­versaram com o SAVANA consideram que o custo de vida está a aumentar no país, situação que levanta uma série de situações desa­gradáveis na sociedade.

Santos Manhiça, vive no bairro Nkobe, município da Matola. No seu entender, a carestia de vida é provocada por falta de políticas de produção ajustadas à rea­lidade moçambicana. Na sua opinião, o Governo devia repensar na forma como as estratégias de combate à pobreza são concebidas, pois, caso contrário, a crise vai atingir picos desumanos.

Para ele, se o Governo estimulasse a produção em larga quantidade e qualidade, o cenário não seria alar­mante. "Veja que hoje não temos uma dezena de produ­tores de renome, daí que as importações continuam. Pen­so que é preciso mudar alguma coisa", opinou o nosso interlocutor.

A opinião de Manhiça é compartilhada por Marcos Titosse, residente no bairro Jorge Dimitrov, que disse que esta situação vem mostrar que estamos perante uma situação em que estamos com um Governo sem plano de governação.

Entende o nosso interlo­cutor que há mais de três anos que Armando Guebuza e o seu elenco vêm falando de produção interna de alimentos.

O pior ainda está por vir

A constante desvalo­rização do metical em relação as principais moedas de referência mundial e o au­mento dos preços dos com­bustíveis são até ao mo­mento as razões apontadas como estando por detrás da subida dos preços dos pro­dutos básicos no país.

Para o presidente da Associação Comercial de Moçambique (ACM), Adelino Buque, o grande problema do país é que importa tudo o que se consome. "Esses produtos são adquiridos por moedas que neste momento estão muito acima do metical. Logo é obvio que para os comerciantes conseguirem sobreviver têm que conciliar o preço da compra e da venda e automaticamente encare­cem os produtos", frisou.

Segundo Buque, a situa­ção é bastante penosa so­bretudo quando se olha para o lado social das coisas.

"São milhares de irmãos nossos que não têm posses mas que precisam de se alimentar. A continuarem nesta linha a situação torna-se muita complicada", disse.

O presidente da ACM vaticina um cenário muito mais complexo, num futuro breve, na medida em que a principal fonte de abas­tecimento do mercado na­cional, África do Sul, também está a começar a se ressentir da falta de alguns produtos como é o caso da batata e cebola.

"Isso vai se repercutir no mercado mo­çam­bicano", sentenciou.

A problemática dos preços de produtos básicos alastra-se ao sector de construção civil.

A Cimentos de Moçam­bique anunciou, semana passada, o agravamento do preço do seu produto devido à desvalorização do metical. Este incremento está já a ter consequências drásticas no sector de construção civil.

Segundo Justino Che­mane, um dos responsáveis pelo pelouro de construção na Confederação das As­socia­ções Económicas de Moçambique (CTA), o au­mento do cimento está a complicar os planos de muitos construtores, sobre­tudo, aqueles que já tinham os seus orçamentos defini­dos.

Entende que urge a ne­ces­sidade de uniformizar o comportamento da economia moçambicana em relação aos seus principais depen­dentes. A taxa de inflação anual (de 1 de Julho de 2009 a 30 de Junho de 2010) foi de 14,52 por cento. O valor equivalente em 2009 foi de apenas 2.65 por cento. No primeiro semestre de 2009, os preços estavam pratica­mente estacionários. A infla­ção, medida pelo Índice de Preço ao Consumidor da cidade de Maputo, foi de apenas 0,33%.

SAVANA – 06.08.2010

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