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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Com que linhas se continuará a engendrar a farsa?

Maputo (Canalmoz) - Na edição da semana passada do semanário Canal de Moçambique, publicámos uma entrevista com o deputado do Partido Frelimo e presidente da Comissão Parlamentar da Administração Pública, Poder Local e Comunicação Social, Alfredo Gamito, da qual sobressaíram várias questões. Mas a essencial, pelo que veio a público dizer, é que o actual chefe de Estado e presidente do seu próprio partido, Armando Emílio Guebuza, não vai recandidatar-se à Presidência da República, porque já se comprometeu publicamente a não ir por aí.
Gamito disse, claramente, que a questão do terceiro mandato de Guebuza é um assunto que não deve merecer debate porque o próprio presidente já declarou em público que se vai retirar do cargo.
Nós queremos recordar, no entanto, que há muita gente que duvida disso. Mesmo dentro do Partido Frelimo duvida-se que o compromisso constitucional e pessoal de Armando Emílio Guebuza com esta Constituição que jurou cumprir, seja levado às últimas consequências.
A luta interna na Frelimo está a ser interessante de seguir, pelo que diz respeito à continuidade de Guebuza no cargo.
Se mudarem a Constituição para o Senhor Guebuza continuar no cargo, a apetência pelo Poder deixará claro onde mora a grande corrupção.
Só continuará a deixar-se iludir quem quiser.
A Frelimo acaba de assumir publicamente – a acreditar-se em Alfredo Gamito – que não vai preparar terreno para que Guebuza se mantenha no poder. Nós perguntamos: será que irá até ao fim com a palavra? E o Senhor Armando Emílio Guebuza vai continuar indisponível mesmo que o seu partido diga que quer que ele continue? Vai embarcar na farsa ou vai ser coerente consigo próprio?
O tempo nos dirá se não irão ser usados subterfúgios a nível da Assembleia da República para que o "grupo" que anda colado a Guebuza se mantenha na condição de gestor do erário público, pretensiosamente crente da sua habilidade governativa "inigualável".
Nós julgamos que é um grande atrevimento quem actualmente governa julgar-se a si próprio e auto-intitular-se insubstituível.
Quando se assiste a uma inigualável derrapagem do Metical, a um desenfreado aumento do custo de vida, a uma desvalorização sem precedentes do poder de compra de quem recebe os seus honorários em meticais, quem governa pode-se julgar insubstituível?
Quem permitiu que as coisas chegassem a este ponto pode alguma vez convencer os moçambicanos que sem o "Grupo de Guebuza" não podemos ter um País com mais qualidade e melhor governado?
Nós, francamente, duvidamos que Guebuza consiga levar até às últimas consequências o seu compromisso de cessar funções no prazo previsto na Constituição que jurou cumprir.
Por todos os cantos da Frelimo nos alertam que Guebuza "anda a fingir que quer sair do cargo".
Dizem-nos, insistentemente, que "o seu grupo" já começou "a comprar a oposição extra-parlamentar e até deputados da oposição parlamentar" com todo o ar de "esfomeados", para darem o aval a mais um novo tipo de burla política que nada ajuda a que em Moçambique se acredite nas normas jurídicas e nos acordos políticos.
No passado vimos o antecessor de Guebuza, Joaquim Chissano, tentar fazer-se passar por respeitador da Constituição, assumindo que não se iria recandidatar, apesar da Constituição, por gralha tipográfica ou artimanha, lhe permitir então, ir a um terceiro mandato.
Chissano, que sempre se fez passar pelo eterno "cordeiro manso" comprometido com a Democracia, transpirava desejo de ver do seu partido emergiram vozes a defender a sua continuidade no posto.
Quem já se esqueceu que Guebuza correu à frente de uma ala para impedir o então presidente Chissano de defraudar princípios assumidos pelo próprio Senhor Guebuza, aquando mediador do Acordo Geral de Paz de Roma?
Na altura falava-se em defender precisamente uma norma que se universalizou, de não se ir para além de dois mandatos presidenciais. Agora que Guebuza está no poder veremos se a sua honestidade vai ser levada até ao limite dos moçambicanos não terem de duvidar de um homem que apesar dos seus defeitos teve a qualidade de merecer o crédito suficiente para ser eleito, mas nunca para se alapar ao poder.
Convém, entretanto, voltar a recordar, para que não haja quem se esqueça, que os tais dois terços conseguidos o foram por via de exclusão de outras candidaturas de potenciais concorrentes. Uma CNE depravada fez o que foi preciso…
São dois terços ou três quartos duvidosos que a Frelimo tem na Assembleia da República. Além de que – voltamos a repetir – quem os terá eleito não chega a um terço dos moçambicanos com capacidade eleitoral. Uma CNE vendida e constituída por falsos representantes da Sociedade Civil encarregou-se mais uma vez de levar os cidadãos a não acreditarem que as eleições são justas e delas resultam vencedores, quem o povo realmente escolhe. Por isso mais de dois terços do eleitorado não vai votar. Por isso a abstenção é cada vez maior, apesar de certos consultores, com as bocas adoçadas, se apressarem, no fim de cada processo eleitoral, a virem dizer-nos que o Povo não foi votar porque confia na Frelimo.
Outra questão importante avançada pelo deputado Alfredo Gamito é que o seu partido pretende alargar o mandato dos cinco anos actuais para sete anos. E aqui pode estar o mais recente truque de que alguns não duvidam que se trata da nova face da golpada parlamentar do "Grupo de Guebuza".
O próprio deputado Alfredo Gamito está refém desse "grupo" por não ter sido eleito e ter sido repescado da lista de suplentes. Agora está a passar por fortes pressões que ilustram bem por que linhas se cose a farsa.
Mudando a Constituição para o mandato passar a ser de sete anos, o senhor Guebuza só sairá do poder em 2017, em vez de sair em 2015 após as eleições actualmente obrigatórias para 2014.
Suspeita-se, diga-se com razão de ser, pelo que estamos a ouvir, que o "Grupo de Guebuza" e quiçá o próprio actual presidente da Frelimo e da República, querem abotoar-se de participações nos grandes projectos económicos que por aí vêm sendo badalados. Querem tempo para isso. Será que a ser verdade não está aí a ponta do iceberg da corrupção?
Seria por isso mesmo interessante que fossem dados aos moçambicanos sinais evidentes de que o assalto ao Estado não está sendo levado a cabo precisamente por quem governa e seus respectivos familiares. Esta apetência desenfreada pelo poder é um sinal preocupante, pois deixa subjacente a ideia de que só através do Poder se conseguem as fortunas imensas que certos senhores têm estado a acumular.
Será, por estes simples factos, difícil entender-se onde mora a corrupção que o Gabinete Central de Combate à corrupção diz andar à procura? Pode agir?
Quem pode, perante os factos que o Parlamento se prepara para nos oferecer, acreditar que com esta gente Moçambique vai alguma vez ser um País dos seus cidadãos? Quem pode acreditar que aqui se está realmente a construir uma Democracia?
Ao se começar a ouvir que uma senhora muito próxima do presidente angolano se prepara para entrar e tomar conta de Moçambique colada a quem serve de disfarce à corrupção ao mais alto nível entre nós, é recomendável que quem quer que seja, da Frelimo como não, não permita que novos "Nympinismos" regressem.
Por isso, já que a Frelimo se diz tão patriótica e anti-corrupção, gostaríamos antes que usasse os tais dois terços ou três quartos na Assembleia da República para respeitar os princípios pétrios ou universalmente sagrados que a Constituição prevê e se deixe de encontrar maneiras de enganar o Povo Moçambicano. Veremos com que linhas se vai continuar engendrar a farsa?



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(MiradourOnline)

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