Caso o Código de Ética do Servidor Público entre em vigor
A justificação não podia ser mais interessante: “os políticos devem ser muito bem considerados pelas suas funções” – presidente da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e da Legalidade, Teodoro Waty
Maputo
(Canalmoz) - Quando o assunto são regalias para deputados, não há
Frelimo nem oposição na Assembleia da República. As três bancadas
uniram-se na Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e
da Legalidade e decidiram que caso o Código de Ética do Servidor
Público, agora alterado para Lei de Probidade Pública, entre em vigor, o
Governo deverá aumentar “adequadamente” os salários dos 250 deputados.
Há quem já apelide o exercício de “chantagem política”.
Isso
porque o Código de Ética do Servidor Público, aprovado na generalidade
na última quarta-feira, prevê que passe a ser proibido receber
remunerações de outras instituições públicas ou de empresas que tenham
participação do Estado, seja em forma de salário, senhas de presença ou
honorários. Esta proibição não se aplica quando as remunerações provêm
do exercício da docência em estabelecimentos de ensino públicos, nem os
que resultem de fazer parte de delegação oficial, assim como as que
advenham do desempenho de cargos em instituições de beneficência.
Aos
deputados está ainda previsto que passe a ser igualmente vedada a
possibilidade de celebrar directa ou indirectamente, ou por
representação, contrato com a administração pública ou autárquica ou com
empresas que tenham participação do Estado.
Neste
aspecto, entende-se que contrata em forma indirecta quando alguns
desses cargos nas empresas co-contratantes do Estado sejam desempenhados
pelo cônjuge, irmão, ascendente ou descendente do deputado em qualquer
grau da linha recta.
Vendo-se
na possibilidade de, fora do parlamento, poder ganhar dinheiro apenas
em actividades académicas, sendo que a maior parte dos deputados da
Assembleia da República não tem competência académica, não restava outra
alternativa senão pedir aumento salarial.
Que o Governo pague pela exclusividade
Coube
a Teodoro Waty, deputado da Frelimo e presidente do Conselho de
Administração das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), apresentar o pedido
de aumento salarial que será nada mais nada menos que um novo fardo
para as contas públicas. Waty disse que se as funções de deputado devem
de facto exigir exclusividade mais lata, o Estado deve precaver-se das
necessárias condições económico-financeiras.
“A
exclusividade do exercício das funções de deputado deveria ser
extensível a todas as profissões, isto é, quem fosse deputado deveria
sê-lo a tempo inteiro. Mas essa exclusividade implica naturalmente uma
adequada remuneração, sendo que os políticos devem ser muito bem
considerados pelas suas funções, como não deve haver dúvidas de que bons
profissionais devem ser adequadamente remunerados em qualquer sector, e
a política bem precisa de bons profissionais, bons a tempo inteiro”,
disse Waty.
Portanto
pode-se esperar que nos próximos dias, isto é, depois de a Lei ser
aprovada em definitivo e quando for enviada ao PR para promulgação, a
Assembleia da República envie a factura dos aumentos salariais ao
Gabinete de Manuel Chang, dada a pressão que os deputados,
principalmente os da Frelimo que tinham tachos nas empresas do Estado,
estão a fazer a todos os níveis. (Matias Guente)
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